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Capítulo 8: Capítulo 8

Página 231

- Ora bem! A mansidão das democracias para com certos condenados não é elegante? Não viste já num governo desta natureza homens feridos por uma sentença de morte ou de exílio continuarem na sua pátria e circularem em público? O condenado, como se ninguém se preocupasse com ele nem o visse, passeia-se como um herói invisível.

- Tenho visto muitos - disse ele.

- E o espírito indulgente e nada peguilhento deste governo, mas, pelo contrário, cheio de desprezo pelas máximas que enunciámos com tanto respeito ao lançarmos as bases da nossa cidade, quando dizíamos que, a não ser que fosse dotado de excelente carácter, ninguém poderia tornar-se homem de bem se, desde a infância, não tivesse brincado no meio das coisas belas e cultivado tudo o que é belo - com que soberba um tal espírito, calcando aos pés todos estes princípios, despreza preocupar-se com os trabalhos em que se formou o homem político, mas honra-o se afirmar somente a sua benevolência para com o povo!

- É um espírito muito generoso - disse ele.

- Tais são - prossegui - as vantagens da democracia, com outras semelhantes. É, como vês, um governo agradável, anárquico e variado, que dispensa uma espécie de igualdade, tanto ao que é desigual como ao que é igual.

- Não dizes nada que não seja conhecido de toda a gente.

- Considera agora o homem que se lhe assemelha. Ou, antes, não devemos examinar, como fizemos para o governo, de que maneira se forma?

-Sim.

- Não é verdade? Será, julgo eu, o filho de um homem parcimonioso e oligárquico, educado pelo seu pai nos sentimentos deste último.

- Sem dúvida.

- Pela força, portanto, como o pai, dominará os desejos que o impelem para o esbanjamento e são inimigos do ganho, desejos a que chamamos supérfluos.

- Evidentemente - disse ele.

- Mas queres - perguntei - que, para evitar toda a obscuridade na nossa discussão, definamos primeiramente os desejos necessários e os desejos supérfluos?

- Sim, quero - respondeu.

- Ora, não é com razão que chamamos necessários aos que não podemos rejeitar e a todos aqueles que nos convém satisfazer? É que estas duas espécies de desejos são necessidades naturais, não é assim?

- Sem dúvida.

- É, pois, com razão que consideraremos estes desejos necessários.

- Com razão.

- Mas aqueles de que podemos desfazer-nos a tempo, cuja presença, além disso, não produz nenhum bem, e os que fazem mal- se chamarmos a todos estes desejos supérfluos, não estaremos a dar-lhes a qualificação conveniente?

- Sim, estaremos.

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Capa do livro A República
Páginas: 290
Página atual: 231

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 45
Capítulo 3 71
Capítulo 4 102
Capítulo 5 129
Capítulo 6 161
Capítulo 7 189
Capítulo 8 216
Capítulo 9 243
Capítulo 10 265