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Capítulo 8: Capítulo 8

Página 233

- E se, como suponho, os seus sentimentos oligárquicos receberem de uma aliança qualquer um auxílio contrário, sob a forma das advertências e reprimendas do pai ou dos parentes, então nascerão nele a revolta, a oposição e a guerra intestina.

- Com certeza.

- E é possível que, por vezes, segundo imagino, a facção democrática tenha cedido à oligárquica; então, tendo surgido na alma do jovem uma espécie de pudor, alguns desejos foram destruídos, outros expulsos, e a ordem ficou restabelecida.

- Efectivamente, às vezes isso é possível - disse ele.

- Mas, em seguida, desejos aparentados aos que foram expulsos, alimentados secretamente, multiplicaram-se e fortificaram-se, porque o pai não soube educar o filho.

- Sim, isso acontece frequentemente.

- Arrastaram-no então para as mesmas companhias e, deste comércio clandestino, nasceu uma multidão de outros desejos.

- Com efeito.

- Por fim, imagino eu, ocuparam a acrópole da alma do jovem, tendo-a sentido vazia de ciência, de hábitos nobres e de princípios verdadeiros, que são certamente os melhores guardas e protectores da razão nos humanos amados pelos deuses.

- Os melhores e de longe - concordou.

- Acorreram então máximas, opiniões falsas e presunçosas e tomaram posse do lugar.

- É inteiramente exacto.

- Então, o jovem, tendo regressado para junto dos Lotófagos, instala-se abertamente no meio deles; e se, da parte dos seus parentes, algum socorro chega ao partido económico da sua alma, essas presunçosas máximas fecham nele as portas do recinto real e não deixam entrar nem esse reforço nem a embaixada dos sábios conselhos que lhe dirigem sábios anciãos. E são estas máximas que o arrebatam no combate; tratando o pudor de imbecilidade, repelem-no e exilam-no vergonhosamente; chamando' à moderação cobardia, ridicularizam-na e expulsam-na; e, fazendo passar a moderação e o comedimento nas despesas por rusticidade e baixeza, põem-nos fora, secundadas em tudo isso por uma multidão de desejos inúteis.

- É a pura verdade.

- Depois de terem esvaziado e purificado destas virtudes a alma do jovem que têm em seu poder, como que para iniciá-lo em grandes mistérios, introduzem nela, brilhantes, seguidas de um numeroso coro e coroadas, a insolência, a anarquia, a licenciosidade, a impudência, que louvam e decoram com belos nomes, chamando nobre educação à insolência, liberdade à anarquia, magnificência ao deboche, coragem à impudência. Não é assim - perguntei - que um jovem habituado a satisfazer apenas os desejos necessários acaba por emancipar os desejos supérfluos e perniciosos e dar-lhes livre curso?

- Sim - respondeu -, isso é evidente.

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Capa do livro A República
Páginas: 290
Página atual: 233

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 45
Capítulo 3 71
Capítulo 4 102
Capítulo 5 129
Capítulo 6 161
Capítulo 7 189
Capítulo 8 216
Capítulo 9 243
Capítulo 10 265