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Capítulo 9: Capítulo 9

Página 245

- Quando os outros desejos, zumbindo em torno deste zângão, numa profusão de incensos, perfumes, coroas, vinhos e todos os prazeres que se encontram em semelhantes companhias, o alimentam, o fazem crescer até ao último limite e lhe espetam o aguilhão do apetite, então este chefe da alma, escoltado pela demência, é tomado de transportes furiosos e, se deita a mão a opiniões ou desejos considerados prudentes e que conservam ainda um certo pudor, mata-os ou expulsa-os de si, até que tenha depurado a sua alma e a tenha enchido de loucura estranha.

- Descreveste de modo perfeito a origem do homem tirânico.

- Assim - prossegui -, não é por este motivo que há muito se diz que o amor é um tirano?

- Parece que sim - respondeu.

- E o homem ébrio, meu amigo, não tem sentimentos tirânicos?

- Sem dúvida.

- E o homem furioso e cujo espírito está perturbado não pretende comandar não só os homens, mas também os deuses, imaginando-se capaz disso?

- Sim, certamente.

- Assim, maravilhoso amigo, nada falta a um homem para ser tirânico, quando a natureza, as suas práticas ou as duas juntas o fizeram bêbedo, apaixonado e louco.

- Não, nada, realmente.

- Aqui tens, parece-me, como se forma o homem tirânico; mas como vive?

- Responder-te-ei, como é costume, a brincar: tu mesmo mo dirás.

- Pois vou dizer-to. Suponho que doravante não há senão festas, festins, cortesãs e prazeres de toda a espécie naquele que deixou o tirano Eras instalar-se na sua alma e governar todos os seus movimentos.

- Necessariamente.

- Ora, numerosos e terríveis desejos, cujas exigências serão múltiplas, não crescerão, cada dia e cada noite, ao lado dessa paixão?

- Sim, crescerão em grande número.

- Portanto, os rendimentos, se os houver, depressa se esgotarão.

- Como não?

- E depois virão os pedidos de empréstimo e os levantamentos sobre o capital.

- Com certeza.

- E, quando já não houver nada, não é inevitável que a multidão ardente dos desejos, que se aninham na alma deste homem, se ponha a soltar gritos e que ele próprio, picado por esses desejos, e sobretudo pelo amor, que os outros escoltam como um chefe, seja tomado de transportes furiosos e procure uma presa de que possa apoderar-se, por fraude ou por violência?

- Certamente - disse ele.

- Assim, será para ele uma necessidade pilhar por toda a parte ou suportar grandes sofrimentos e grandes dificuldades.

- Sim, uma necessidade.

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Capa do livro A República
Páginas: 290
Página atual: 245

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 45
Capítulo 3 71
Capítulo 4 102
Capítulo 5 129
Capítulo 6 161
Capítulo 7 189
Capítulo 8 216
Capítulo 9 243
Capítulo 10 265