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Capítulo 9: Capítulo 9

Página 246

- E, como as novas paixões aparecidas na sua alma levaram de vencida as antigas e a demitiram, não pretenderá, do mesmo modo, ele que é mais novo, levar de vencida o pai e a mãe, demiti-los, quando tiver esbanjado a sua parte, e apoderar-se dos bens paternos?

- Sem sombra de dúvida.

- E, se os pais não cederem, não tentará primeiramente roubá-los

e enganá-los?

- Com certeza.

- Mas, se não o conseguir, arrancar-lhes-á os bens pela força.

- Julgo que sim - disse ele.

- Agora, admirável amigo, se o velho pai e a velha mãe resistirem e aguentarem a luta, terá cuidado e abster-se de cometer qualquer acção tirânica?

- De modo nenhum estou tranquilo quanto aos pais desse homem.

- Mas, por Zeus!, Adimanto, por uma cortesã amada desde ontem e que não é para ele senão um capricho, esquecer-se-á dessa amiga antiga e necessária que é a sua mãe, ou por um jovem na flor da vida que ama desde a véspera, e que não é para ele senão um capricho, do pai cuja juventude passou, mas que é o mais necessário e o mais antigo dos seus amigos? Esquecer-se-á deles ao ponto de feri-los e submetê-los a essas criaturas, se as introduzir na sua casa?

- Sim, por Zeus! - respondeu.

- É, aparentemente, uma enorme felicidade - exclamei - ter dado à luz um filho de carácter tirânico!

- Sim, enorme!

- Ora bem! Quando tiver gasto os bens do pai e da mãe e as paixões

se tiverem juntado como um exame na sua alma, não virá a bater na parede de uma casa ou na túnica de um viajante nocturno, depois a desocupar os templos? E, em todas estas conjunturas, as antigas opiniões, consideradas justas, que tinha desde a infância sobre a honestidade e a desonestidade, cederão o lugar às opiniões recentemente adquiridas que servem de escolta ao amor e triunfarão com ele; antes destas, não se manifestavam senão em sonho, durante o sono, porque então estava sujeito às leis e ao seu pai e a democracia reinava na sua alma; mas agora, tiranizado pelo amor, será no estado de vigília o homem em que às vezes se tornava em sonho; não se absterá de nenhum crime, de nenhum alimento proibido, de nenhuma perversidade. Eros, que vive nele tiranicamente numa desordem e num desregramento completos, porque é o único senhor, incitará o infeliz cuja alma ocupa, como um tirano a cidade, a ousar tudo para alimentá-lo, a ele e ao tumulto dos desejos que o rodeiam: os que vierem do exterior através das más companhias e os que, nascidos no interior, de disposições semelhantes às suas, romperam os seus laços e se libertaram. Não é esta a vida que leva um homem assim?

- É - disse ele.

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pág. 246 (Capítulo 9)

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Capa do livro A República
Páginas: 290
Página atual: 246

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 45
Capítulo 3 71
Capítulo 4 102
Capítulo 5 129
Capítulo 6 161
Capítulo 7 189
Capítulo 8 216
Capítulo 9 243
Capítulo 10 265