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Capítulo 9: Capítulo 9

Página 249
Se eu pretendesse que todos devemos escutar aquele que, em primeiro lugar, seria capaz de julgar, que, além disso, tivesse vivido sob o mesmo tecto que o tirano, testemunha dos actos da sua vida doméstica e das relações que mantém com os seus familiares - é sobretudo entre eles que se pode vê-lo despojado do seu maquinismo teatral - e também da sua conduta nos perigos públicos, se eu obrigasse aquele que viu tudo isto a pronunciar-se sobre a felicidade ou a infelicidade do tirano relativamente aos outros homens...

- Também aqui - disse ele - não pedirias nada que não fosse justo.

- Queres que nos consideremos do número dos que são capazes de julgar - perguntei - e que se encontraram com tiranos, a fim de termos alguém que possa responder às nossas perguntas?

- Certamente.

- Ora então - disse eu - segue-me neste exame. Lembra-te da semelhança do Estado e do indivíduo e, considerando-os ponto por ponto, cada um por sua vez, diz-me o que acontece a um e a outro.

- Que lhes acontece?

- Começando pela cidade, dirás da que é governada por um tirano que

é livre ou escrava?

- É escrava, tanto quanto se pode sê-lo - respondeu.

- E, contudo, vês nela senhores e homens livres.

- Vejo, mas em pequeno número; quase todos os cidadãos, e os mais honrados, são reduzidos a uma indigna e miserável servidão.

- Se o indivíduo se assemelha à cidade, não é inevitável que se encontre nele o mesmo estado de coisas, que a sua alma esteja cheia de servidão e baixeza, que as partes mais honestas dessa alma sejam reduzidas à escravatura e que uma minoria, formada pela parte pior e mais furiosa, a domine?

- É inevitável.

- Mas como? Dirás de uma alma neste estado que é escrava ou que é livre?

- Direi, certamente, que é escrava.

- Ora, a cidade escrava e dominada por um tirano de modo nenhum faz o que quer.

- Por certo que não.

- Por conseguinte, a alma tiranizada não fará o que quer - refiro-me ao que a alma inteira quer -; sem cessar e violentamente arrastada por um desejo furioso, ficará cheia de perturbação e remorsos.

- Como não?

- Mas a cidade governada por um tirano é necessariamente rica ou pobre?

- Pobre.

- Portanto, é necessário também que a alma tirânica seja sempre pobre e insaciada.

- Sim - disse ele.

- Mas como? Não é forçoso também que uma tal cidade e um tal homem estejam cheios de medo?

- Sem dúvida.

- Achas possível encontrar em qualquer outro Estado mais lamentações, gemidos, queixas e dores?

- De modo nenhum.

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Capa do livro A República
Páginas: 290
Página atual: 249

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 45
Capítulo 3 71
Capítulo 4 102
Capítulo 5 129
Capítulo 6 161
Capítulo 7 189
Capítulo 8 216
Capítulo 9 243
Capítulo 10 265