Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 9: Capítulo 9

Página 256

- Mas é possível que o que não é nem um nem outro se torne um

e outro?

- Não me parece.

- E o prazer e a dor, quando se produzem na alma, são uma espécie de movimento, não é verdade? -Sim, é.

- Ora, não acabamos de reconhecer que o estado em que não se sente nem prazer nem dor é um estado de repouso, que se situa entre estas duas sensações?

- Sim, reconhecemo-lo.

- Como se pode então acreditar racionalmente que a ausência de dor seja um prazer e a ausência de prazer uma dor? - Não se pode, de maneira nenhuma.

- Portanto, este estado de repouso não é, mas parece, quer um prazer por oposição à dor, quer uma dor por oposição ao prazer; e não há nada de são nestas visões quanto à realidade do prazer: é uma espécie de prestígio.

- Sim - disse ele -, o raciocínio demonstra-o.

- Considera agora os prazeres que não se seguem a dores, a fim de não seres induzido a acreditar, no caso presente, que, por natureza, o prazer não é senão a cessação da dor e a dor a cessação do prazer.

- A que caso e a que prazeres te queres referir?

- Há muitos - respondi -, mas considera, sobretudo, os prazeres do olfacto. Com efeito, produzem-se subitamente, com uma intensidade extraordinária, sem terem sido precedidos de nenhuma aflição, e, quando cessam, não deixam depois deles nenhuma dor.

- Isso é verdade - concordou.

- Portanto, não nos deixemos persuadir de que o prazer puro é a cessação da dor ou a dor a cessação do prazer.

- Não.

- E, contudo, os pretensos prazeres que passam à alma através do corpo - e que são talvez os mais numerosos e mais vivos - pertencem a esta classe: são cessações de dores.

- Efectivamente.

- Não sucede o mesmo com esses prazeres e essas dores antecipados, que causa a expectativa?

- Sucede o mesmo.

- Ora, sabes o que são esses prazeres e a que mais se assemelham?

- A quê? - perguntou.

-- Pensas que há na natureza um alto, um baixo e um meio?

- Com certeza!

- Ora, na tua opinião, um homem transportado de baixo para o meio poderia evitar pensar que foi transportado para o alto? E, quando se encontrasse no meio e olhasse para o sítio que deixou, julgar-se-ia noutra parte que não fosse o alto, se não tivesse visto o alto autêntico?

- Por Zeus! A meu ver, não poderia fazer outra suposição.

- Mas se, em seguida, fosse transportado em sentido inverso, julgaria voltar para baixo, no que não se enganaria?

- Sem dúvida.

<< Página Anterior

pág. 256 (Capítulo 9)

Página Seguinte >>

Capa do livro A República
Páginas: 290
Página atual: 256

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 45
Capítulo 3 71
Capítulo 4 102
Capítulo 5 129
Capítulo 6 161
Capítulo 7 189
Capítulo 8 216
Capítulo 9 243
Capítulo 10 265