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Capítulo 10: Capítulo 10

Página 276
Se, pelo contrário, admitires a Musa voluptuosa, o prazer e a dor serão os reis da tua cidade, em vez da lei e desse princípio que, de comum acordo, sempre foi considerado o melhor, a razão.

- É inteiramente verdade.

- Que isto seja dito para nos justificar, visto que voltámos a falar da poesia, de termos banido do nosso Estado uma arte desta natureza: a razão obrigava-nos a isso. E digamos-lhe também, a fim de que ela não nos acuse de dureza e rudeza, que é antiga a dissidência entre a filosofia e a poesia. Testemunham-no os seguintes aspectos: «a cadela arisca que ladra ao dono», «aquele que passa por um grande homem nas inúteis tagarelices dos loucos», «o magote das cabeças demasiado sabias», «as pessoas que se atormentam a subtrair porque estão na miséria» e mil outros que marcam a sua velha oposição. Declaremos, porém, que, se a poesia imitativa puder provar-nos com boas razões que tem o seu lugar numa cidade bem policiada, recebê-la-emos com alegria, porquanto temos consciência do encanto que ela exerce sobre nós - mas seria ímpio trair o que se considera a verdade. Aliás, meu amigo, não te encanta também, sobretudo quando a vês através de Homero?

- Muito.

- Portanto, é justo que possa entrar, com esta condição: depois de se ter justificado, quer numa ode, quer em versos de qualquer outra medida.

- Sem dúvida.

- Permitiremos até que os seus defensores que não são poetas, mas que amam a poesia, falem por ela em prosa e nos demonstrem que não é apenas agradável, mas também útil, ao governo dos Estados e à vida humana; e ouvi-los-emos com benevolência, porquanto será proveitoso para nós se ela se revelar tão útil como agradável.

- Por certo que ficaremos a ganhar - disse ele.

- Mas se, meu caro camarada, ela não se nos apresentar assim, faremos como aqueles que se amaram, mas que, tendo reconhecido que o seu amor não era proveitoso, se desligam - contrariados é certo, mas desligam-se. Também nós, por um efeito do amor que a educação das nossas belas repúblicas fez nascer em nós por essa poesia, estaremos dispostos a ver manifestar-se a sua excelência e altíssima verdade; mas, enquanto não puder justificar-se, escutá-la-emos repetindo, como um encantamento que nos previna contra ela, as razões que acabamos de enunciar, com medo de cair nesse amor de infância que é ainda o da maioria dos homens.

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Capa do livro A República
Páginas: 290
Página atual: 276

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 45
Capítulo 3 71
Capítulo 4 102
Capítulo 5 129
Capítulo 6 161
Capítulo 7 189
Capítulo 8 216
Capítulo 9 243
Capítulo 10 265