— Assim, o justo é feliz e o injusto infeliz.
— Seja! — concedeu.
— E não aproveita ser infeliz, mas ser feliz.
— Sem dúvida.
— Consequentemente, divino Trasímaco, nunca a injustiça é mais proveitosa do que a justiça.
— Que seja esse, Sócrates — disse ele —, o teu festim das Bendidias! — Tive-o graças a ti, Trasímaco, visto que abrandaste e derivaste de ser rude para comigo. Contudo, não me regalei o suficiente: por culpa minha, e não tua. Parece-me que fiz como os glutões, que se lançam avidamente sobre o prato que lhes apresentam, antes de terem apreciado suficientemente o anterior; de igual modo, antes de termos encontrado o que procurávamos inicialmente, a natureza da justiça, lancei-me numa digressão para analisar se ela é vício e ignorância ou sabedoria e virtude; tendo surgido em seguida outra hipótese, a de saber que a injustiça é mais vantajosa do que a justiça, não pude evitar de ir de uma para a outra, de modo que o resultado da nossa conversa é que não sei nada; porquanto, não sabendo o que é a justiça, ainda menos saberei se é virtude ou não e se aquele que a possui é feliz ou infeliz.