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Capítulo 2: Capítulo 2

Página 55

»Este elogio, meus amigos, parece-me que vos assenta perfeitamente.

Com efeito, há qualquer coisa de realmente divino nos vossos sentimentos se não estais convencidos de que a injustiça vale mais que a justiça, sendo capazes de falar assim sobre esta questão. Ora, creio que, na verdade, não estais convencidos - conjecturo-o pelos outros aspectos do vosso carácter, dado que, a julgar apenas pela vossa linguagem, desconfiaria de vós e quanta mais confiança vos concedo, mais embaraçado me sinto sobre o partido a tomar. Por um lado, não sei como tomar a defesa da justiça; parece-me que não tenho forças para isso - e o sinal para mim é este: quando eu pensava ter demonstrado, contra Trasímaco, a superioridade da justiça sobre a injustiça, vós não aceitastes as minhas razões. Por outro lado, não sei como não tomar a sua defesa; com efeito, receio que seja uma impiedade, quando ela é maltratada na minha presença, renunciar a defendê-la, enquanto respirar e for capaz de falar. Portanto, o melhor é prestar-lhe o apoio que puder.

Gláucon e os outros suplicaram-me que empregasse todos os meus recursos, que não deixasse esmorecer a discussão, mas que procurasse a natureza do justo e do injusto e a verdade das suas respectivas vantagens. Disse-lhes então o que sentia:

- A busca que empreendemos não é de pouca importância, mas exige, na minha opinião, uma vista penetrante. Ora, visto que esta qualidade nos falta, dir-vos-ei como julgo que se deve proceder. Se se ordenasse a pessoas que não têm a vista muito apurada que lessem de longe letras traçadas em caracteres muito pequenos e uma delas descobrisse que essas mesmas letras se encontram traçadas noutro sítio em grandes caracteres num espaço maior, ser-lhes-ia, imagino, mais fácil ler primeiramente as letras grandes e examinar em seguida as pequenas, para verem se são as mesmas.

- Com certeza - disse Adimanto. - Mas, Sócrates, que vês tu na busca do justo?

- Vou dizer-to - respondi. - A justiça é, como afirmamos, um atributo do indivíduo, mas também de toda a cidade? - Certamente - concordou.

- Ora, a cidade é maior que o indivíduo?

- É maior.

- Talvez então, num quadro mais alto, a justiça seja mais vasta e mais fácil de estudar. Por conseguinte, se quiserdes, começaremos por procurar a natureza da justiça nas cidades; em seguida, examiná-la-emos no indivíduo, de modo a descobrirmos a semelhança da grande na forma da pequena.

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Capa do livro A República
Páginas: 290
Página atual: 55

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 45
Capítulo 3 71
Capítulo 4 102
Capítulo 5 129
Capítulo 6 161
Capítulo 7 189
Capítulo 8 216
Capítulo 9 243
Capítulo 10 265