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Capítulo 2: Capítulo 2

Página 63

- Não pensámos que existem, efectivamente, naturezas que julgávamos impossíveis e que reúnem estas qualidades contrárias.

- Onde?

- Podemos vê-las em diferentes animais, mas sobretudo naquele que comparávamos ao guarda. Sabes, sem dúvida, que os cães de boa raça são, naturalmente, tão mansos quanto possível para as pessoas da casa e aqueles que conhecem e o contrário para aqueles que não conhecem.

- Com certeza que sei.

- Portanto, a coisa é possível- continuei -, e vamos ao encontro da natureza procurando um guarda com este temperamento.

- Não me parece.

- Então, não achas que falta ainda alguma coisa ao nosso futuro guarda? Além do temperamento irascível, deve ter também uma natureza filosófica.

- Como assim? - admirou-se. - Não compreendo.

- Notarás - prossegui - esta qualidade no cão, e ela é digna de admiração num animal.

- Que qualidade?

- Que ele se mostra mau quando vê um desconhecido, embora não tenha sofrido nenhum mal, ao passo que lisonjeia aquele que conhece, mesmo que não tenha recebido dele nenhum bem. Isto nunca te espantou?

- Não prestei muita atenção até agora - respondeu -, mas é evidente que o cão procede assim.

- E manifesta desse modo uma linda maneira de sentir e verdadeiramente filosófica.

-Como?

- Só porque conhece um e não conhece o outro - disse eu -, sabe distinguir um rosto amigo de um rosto inimigo. Ora, quem não gostaria de saber distinguir, pelo conhecimento e pela ignorância o amigo do estranho?

- É impossível ser de outro modo - respondeu.

- Mas - continuei - a natureza ávida de aprender é a mesma coisa que a natureza filosófica?

- É a mesma coisa - reconheceu.

- Pois bem! Não ousaremos admitir também que o homem, para ser manso com os seus amigos e conhecidos, deve, por natureza, ser filósofo e ávido de aprender?

- Admitamo-lo.

- Portanto, filósofo, irascível, ágil e forte será aquele que destinamos a tornar-se um belo e bom guarda da cidade.

- Perfeitamente - disse ele.

- Serão essas as suas qualidades. Mas como educá-lo e instruí-lo? A análise desta questão pode ajudar-nos a descobrir o objecto de todas as nossas pesquisas, isto é, como surgem a justiça e a injustiça numa cidade? Temos de sabê-lo, porque não queremos nem omitir um ponto importante nem perder-nos em desenvolvimentos demasiado longos.

- Pela minha parte - disse então o irmão de Gláucon -, creio que essa análise nos será útil para atingirmos o nosso objectivo.

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Capa do livro A República
Páginas: 290
Página atual: 63

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 45
Capítulo 3 71
Capítulo 4 102
Capítulo 5 129
Capítulo 6 161
Capítulo 7 189
Capítulo 8 216
Capítulo 9 243
Capítulo 10 265