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Capítulo 2: Capítulo 2

Página 67

- Sendo assim - retorqui -, é impossível admitir, de Homero ou de qualquer outro poeta, erros sobre os deuses tão absurdos como estes:

Dois tonéis se encontram no limiar de Zeus cheios de fados, uns felizes, outros maus,

e aquele a quem Zeus dá dos dois

ora sente o mal e ora o bem;

mas o que só recebe dos segundos sem mistura,

a devorada fome persegue-o na terra divina;

e ainda que Zeus é para nós

dispensador tanto dos bens como dos males.

E, quanto à violação dos juramentos e dos tratados, de que Pândaro se tornou culpado, se alguém disser que foi cometida por instigação de Atena e de Zeus, não o aprovaremos, assim como aquele que tornou Témis e Zeus responsáveis pela querela e julgamento das deusas, de igual modo não permitiremos que ouçam os versos de Ésquilo onde se diz que

Deus entre os mortais faz nascer o crime quando quer arruinar inteiramente uma casa.

Se alguém compõe um poema, tal como aquele em que se encontram estes iambos, sobre as desgraças de Níobe, dos Pelópidas", dos Troianos ou sobre qualquer outro tema semelhante, não deve poder dizer que tais desgraças são obra de Deus ou, se o disser, deve justificá-lo, mais ou menos como nós, agora, procuramos fazer. Deve dizer que, com isso, Deus só fez o que era justo e bom e que aqueles que castigou tiraram proveito daí; mas não devemos dar ao poeta a liberdade de dizer que os homens punidos foram infelizes e Deus o autor dos seus males. Pelo contrário, se afirmar que os maus tinham necessidade de castigo, sendo infelizes, e que Deus lhes fez bem castigando-os, devemos deixá-lo livre. Assim, se se pretende que Deus, que é bom, é a causa das desgraças de alguém, combateremos tais palavras com todas as nossas forças e não permitiremos que sejam pronunciadas ou ouvidas pelos novos ou pelos velhos, em verso ou em prosa, numa cidade que deve ter boas leis, porque seria ímpio pronunciá-las, e não nos trazem vantagem nem estão de acordo entre si.

- Voto essa lei contigo - disse ele. - Agrada-me.

- É esta, portanto - continuei -, a primeira regra e o primeiro modelo a que devemos obedecer nos discursos e nas composições poéticas: Deus não é a causa de tudo, mas somente do bem.

- Isso basta - disse ele.

- Passemos à segunda regra.

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Capa do livro A República
Páginas: 290
Página atual: 67

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 45
Capítulo 3 71
Capítulo 4 102
Capítulo 5 129
Capítulo 6 161
Capítulo 7 189
Capítulo 8 216
Capítulo 9 243
Capítulo 10 265