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Capítulo 3: Capítulo 3

Página 74

- É evidente - disse ele.

- E, se compete a outros mentir, é aos chefes da cidade, para enganar, no interesse da cidade, os inimigos ou os cidadãos; a mentira está interdita a qualquer outra pessoa e afirmaremos que o particular que mente aos chefes comete um erro da mesma natureza, mas maior, que o doente que não diz a verdade ao médico, que o aluno que esconde ao pedótriba as suas disposições físicas ou que o marinheiro que engana o piloto quanto ao estado do navio e da tripulação, não o informando daquilo que faz, ele ou um dos seus camaradas.

- É inteiramente verdade - reconheceu.

- Por conseguinte, se o chefe surpreender em flagrante delito de mentira um cidadão

da classe dos artesãos,

seja adivinho, médico ou carpinteiro,

castigá-lo-á, como se introduzisse uma prática adequada a virar e a perder tanto uma cidade como um navio.

- Castigá-lo-á - disse ele -, se as suas acções corresponderem às suas . palavras.

- Mas quê! Não será a moderação necessária aos nossos jovens?

- Como não?

- Ora, para a maioria dos homens, os principais pontos de moderação

não são os seguintes: obedecer aos chefes e ser senhor de si mesmo no que respeita aos prazeres do vinho, do amor e da mesa?

- Assim parece.

- Então aprovaremos, creio eu, esta passagem em que Homero faz dizer a Diomedes:

... Os Aqueus, respirando força, iam em silêncio, receando os chefes,

e todas as passagens semelhantes.

- Certo.

- Mas que pensar deste verso:

Homem pesado de vinho, olhos de cão, coração de corça!

e do que se segue? Acaso são belas as impertinências que os particulares, em prosa ou em poesia, disseram aos seus chefes?

- Não são belas.

- Com efeito, julgo que não são coisas dignas de ser ouvidas para levar os jovens à moderação. Não é de admirar que elas lhes proporcionem outro prazer qualquer. Mas que te parece?

- Sou da tua opinião - disse ele.

- Ora bem! Quando um poeta faz dizer ao mais sábio dos homens que nada no mundo lhe parece mais belo que

... mesas carregadas de pão e carnes, e um escanção tirando da cratera o vinho que leva e deita nas taças,

achas que isso ajuda o jovem a tornar-se senhor de si mesmo? Convém-lhe ouvir contar

que não há destino mais horrível que morrer de fome

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Capa do livro A República
Páginas: 290
Página atual: 74

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 45
Capítulo 3 71
Capítulo 4 102
Capítulo 5 129
Capítulo 6 161
Capítulo 7 189
Capítulo 8 216
Capítulo 9 243
Capítulo 10 265