Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 3: Capítulo 3

Página 97

- Mas não se é sobretudo dedicado àquilo que se ama?

- Assim é preciso.

- Ora, um homem ama sobretudo aquilo que julga ser do seu interesse, cujo êxito ou fracasso considera como seus.

- É verdade - disse ele.

- Portanto, escolheremos entre os guardas os que, após um exame, nos parecerem que poderão fazer, durante toda a sua vida e com toda a boa vontade, o que considerarem proveitoso à cidade, sem nunca consentirem em fazer o contrário.

- Efectivamente, são esses que convêm - aprovou.

- Assim, creio que é preciso observá-los em todas as idades, para ver se se mantêm fiéis a esta máxima e se, fascinados ou constrangidos, não abandonam nem esquecem a opinião que lhes impõe que trabalhem para o maior bem da cidade.

- Que entendes por esse abandono? - perguntou.

- Vou-to dizer - respondi. - Parece-me que uma opinião sai do espírito voluntária ou involuntariamente; sai voluntariamente a opinião falsa, quando se é iludido, involuntariamente toda a opinião verdadeira.

- Quanto à saída voluntária, compreendo; mas, quanto à involuntária, preciso de explicações.

- Como assim? Não pensas, como eu, que os homens são involuntariamente privados dos bens e voluntariamente dos males? Ora, iludir-se quanto à verdade não é um mal, firmar-se na verdade não será um bem?

- Tens razão - disse ele - e creio que é involuntariamente que se é privado da opinião verdadeira.

- E é-se privado dela por roubo, alucinação ou violência?

- Aí está outra coisa que não compreendo!

- Parece que me exprimo - retorqui - à maneira dos trágicos. Digo que se é roubado quando se é dissuadido ou se esquece, porque o tempo, num caso, e a razão, no outro, nos furtam a opinião sem que nos dêmos conta. Compreendes agora?

- Compreendo.

- Digo que se é vítima quando o desgosto ou a dor forçam a mudar de opinião.

- Também compreendo isso e é exacto.

- Portanto, dirás comigo, julgo eu, que se fica iludido quando se muda de opinião sob o encanto do prazer ou a opressão do medo.

- Com efeito - confessou -, tudo o que nos engana parece seduzir-nos.

- Sendo assim, como dizia há pouco, é preciso procurar os guardas mais fiéis desta máxima, que prescreve que trabalhemos no que consideramos o maior bem da cidade. É preciso treiná-los desde a infância, lançando-os nas acções em que se pode, sobretudo, esquecê-la e ser enganado, depois escolher os que se recordam dela, que são difíceis de seduzir, e excluir os outros, não é assim?

<< Página Anterior

pág. 97 (Capítulo 3)

Página Seguinte >>

Capa do livro A República
Páginas: 290
Página atual: 97

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 45
Capítulo 3 71
Capítulo 4 102
Capítulo 5 129
Capítulo 6 161
Capítulo 7 189
Capítulo 8 216
Capítulo 9 243
Capítulo 10 265