Em seguida, voltaram-se para a mesa de trabalho. Entre a pilha de papéis bem alinhada, destacava-se um envelope que exibia, com a letra do médico, o nome do Sr. Utterson. O advogado quebrou o selo e vários documentos caíram no chão. O primeiro era um testamento, redigido nos mesmos termos excêntricos daquele que lhe devolvera seis meses antes, para servir de testamento, em caso de morte, e de doação, em caso de desaparecimento; contudo, em vez do nome de Edward Hyde, o advogado, com um espanto indescritível, leu o nome de Gabriel John Utterson. Olhou para Poole, e novamente para o papel; por fim, contemplou o corpo do malfeitor estendido sobre o tapete.
- Sinto a cabeça a andar à roda - observou. - Teve este papel na sua posse durante todos estes dias; não tinha motivos para gostar de mim; deve ter ficado furioso por se ver rejeitado desta forma; e não destruiu este documento.
Pegou no papel seguinte, que era uma breve nota escrita pelo punho do médico e datada no topo.
- Ai, Poole! - gritou o advogado. - Esteve vivo e neste local, hoje. Não pode ter sido suprimido num espaço tão curto; ainda deve estar vivo, deve ter conseguido fugir! Mas porquê fugir? E como? Poderemos, neste caso, aventurar a hipótese de suicídio? Ai, temos de ter cuidado. Pressinto que ainda podemos envolver o seu patrão em alguma catástrofe medonha.
- Porque não lê o bilhete, Sr. Utterson? - perguntou Poole.
- Porque tenho medo - respondeu o advogado num tom solene. - Queira Deus que não tenha motivos para tal!