O Estranho Caso de Dr. Jekyll e Mr. Hyde - Cap. 3: Capítulo 3 Pág. 23 / 102

TRANQUILO

Quinze dias depois, por uma feliz casualidade, o médico ofereceu um dos seus agradáveis jantares, para os quais costumava convidar cinco ou seis velhos amigos, todos eles cavalheiros inteligentes, respeitados e apreciadores de bom vinho; o Sr. Utterson conseguiu ficar a sós com ele, depois de todos os outros terem saído. Ninguém estranhou a situação, pois já não era a primeira vez que tal acontecia. Quem tinha apreço por Utterson, estimava-o de verdade. Os seus anfitriões costumavam reter o discreto advogado, quando os mais extrovertidos e faladores já se preparavam para sair; gostavam de ficar sentados por mais algum tempo, desfrutando da sua discreta companhia, partilhando a solidão e apaziguando o espírito com o seu precioso silêncio, no rescaldo do excesso de jovialidade. O Dr. Jekyll não era excepção a esta regra; sentado no lado oposto da lareira, era bem visível como aquele homem - corpulento e bem constituído, apesar dos seus cinquenta anos, de rosto afável, porventura com um certo ar de dissimulação - nutria pelo Sr. Utterson uma sincera e cálida afeição.

- Há já algum tempo que desejo falar contigo, Jekyll - começou o advogado. - Recordas-te daquele teu testamento?

Qualquer observador atento perceberia de imediato que o tema da conversa era incómodo; mas o médico encarou-o com à-vontade:

- Pobre Utterson - respondeu -, não tens sorte nenhuma com este teu cliente. Nunca vi um homem tão angustiado com o meu testamento como tu; a não ser o Lanyon, esse pedante casmurro, que considera o meu trabalho uma heresia científica.





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