Foi já ao fim da tarde que o Sr. Utterson se dirigiu a casa do Dr. Jekyll, onde foi imediatamente convidado a entrar por Poole, que o conduziu através da cozinha e de um pátio que em tempos fora um jardim até ao edifício que era indiferentemente conhecido como o laboratório ou a sala de anatomia. O médico tinha comprado a casa aos herdeiros de um conceituado cirurgião; e, preferindo a química à anatomia, alterara o destino daquele anexo situado ao fundo do jardim. Era a primeira vez que o advogado era recebido naquela parte dos aposentos do amigo; observou com curiosidade aquela sórdida estrutura sem janelas; olhou em seu redor com uma desagradável sensação de estranheza, ao atravessar o anfiteatro, outrora repleto de estudantes interessados e agora mergulhado na desolação e no silêncio, com as mesas apinhadas de apetrechos químicos e o chão atulhado de caixotes e palha; uma luz débil e sinistra rompia por entre a cúpula embaciada. Ao fundo, no topo de um lanço de escadas, havia uma porta coberta por um reposteiro de feltro vermelho, transposta a qual, o Sr. Utterson foi finalmente recebido no gabinete do médico. Era uma sala vasta, guarnecida a toda a volta com armários de vidro, mobilada, entre outros objectos, com um enorme espelho giratório e uma secretária; e dava para o pátio através de três janelas poeirentas protegidas com grades de ferro. O fogo crepitava na lareira; havia uma lamparina acesa sobre a prateleira da chaminé, pois mesmo dentro das casas o nevoeiro começava a adensar-se; e ali, junto ao fogo, estava sentado o Dr. Jekyll, com um aspecto extremamente adoentado.