Então até um rapazinho podia ser útil e Tumai valia por três rapazes. Pegava no seu archote, agitava-o e berrava como os melhores. Mas o mais divertido era quando começava a expulsão e a quedá - ou seja, a estacada - parecia uma cena do fim do mundo, e os homens tinham de se entender por sinais, visto não se ouvirem uns aos outros. Tumai Pequeno trepava então para a ponta de um desses espeques oscilantes da estacada, de cabelo castanho requeimado e solto pelos ombros, parecendo um duende à luz dos archotes, e, logo que houvesse uma aberta, ouviam-se-lhe os gritos agudos de incitação a Cala Nague, acima dos urros, estampidos, estalar de cordas e gemidos dos elefantes peados. Maíl, maíl, Cala Nague! [Avança, avança, Cobra Negra!] Dante dô! [Espeta-lhe o dente!] Somalô! Somalô! [Cautela! Cautela!] Marô! Marô! [Dá-lhe! Dá-lhe!] Cuidado com o poste! Arré! Arré! Hai! Iai! Quiá-á-áh - gritava, e a grande luta entre Cala Nague e o elefante bravo oscilava de um lado para o outro pela quedá, e os velhos caçadores de elefantes limpavam o suor dos olhos e encontravam tempo para fazer sinal com a cabeça a Tumai Pequeno, que se retorcia de alegria na ponta do espeque.
Fazia mais do que retorcer-se. Uma noite deslizou do poste para o chão, insinuou-se entre os elefantes e atirou pelo ar um chicote de corda, que caíra a um cornaca que tentava segurá-la na perna de um jovem elefante rabugento (os animais novos dão sempre mais trabalho do que os adultos). Cala Nague viu-o, apanhou-o com a tromba e entregou-o a Tumai Grande, que ali mesmo o esbofeteou e o restituiu ao poste.
Na manhã seguinte deu-lhe uma descompostura e disse-lhe: - Não te bastam os bons estábulos de tijolo nem o transporte de tendas, para que precises de ir à caça de elefantes por tua conta, meu inútil? Ora aqueles caçadores estúpidos, que ganham menos do que eu, já falaram no caso a Petersen Sàibe - Tumai Pequeno assustou-se.
