O Livro da Selva - Cap. 6: TUMAI DOS ELEFANTES Pág. 130 / 158

O luar dava ao sítio o tom de cinzento-ferroso, excepto onde fosse ocupado por alguns elefantes, cujas sombras eram manchas de tinta negra. Tumai Pequeno observava, de respiração contida, com os olhos a saltarem-lhe das órbitas, e enquanto olhava, cada vez mais e mais elefantes entravam aos rebolões na clareira, saídos de entre os troncos das árvores. Tumai Pequeno só sabia contar até dez, contou e tornou a contá-los pelos dedos, até perder a conta das dezenas, e a cabeça começou a andar-lhe à roda. Fora da clareira ouvia-os esmagar o mato rasteiro ao abrirem caminho encosta arriba; mas, logo que se achavam dentro do círculo de troncos, moviam-se como espectros.

Havia machos bravos de colmilhos brancos, cobertos de folhas caídas, frutos secos e ramúsculos presos nas rugas do pescoço e nas dobras das orelhas; fêmeas gordas de passo lento, com crias pequenas de um preto rosado, irrequietas, apenas com três ou quatro pés de altura, que lhes corriam por baixo do ventre; elefantes novos, de presas ainda a despontar com grande orgulho seu; velhas fêmeas solteiras, magras e escorridas, de rostos encovados e ansiosos, com trombas que pareciam de cortiça; velhos machos ferozes, cobertos de cicatrizes da espádua aos flancos, com grandes vergões e rasgões de lutas passadas e a lama seca, de banhos em lodaçais solitários, a cair-lhes das espáduas; e havia um com um dente partido e os sinais de golpe cruel, terrível arranhadura das garras de um tigre na anca.

Estavam de pé, cabeça contra cabeça, moviam-se aos pares de um lado para o outro do redondel ou embalavam-se e balançavam-se isolados - dezenas e dezenas de elefantes.

Tumai Pequeno sabia que, enquanto se conservasse quieto sobre o pescoço de Cala Nague, não corria perigo algum; porque mesmo na fúria e precipitação de uma entrada na quedá, um elefante bravo não ergue a tromba para arrancar um homem do cachaço de um elefante domesticado, e nesta noite os elefantes não pensavam em homens.