O Livro da Selva - Cap. 7: SERVIDORES DE SUA MAJESTADE Pág. 143 / 158

- Agora não te zangues, depois de teres sentido medo. É a pior espécie de cobardia - disse o cavalo militar. - Perdoa-se a qualquer o ter-se assustado de noite, julgo eu, ao verem coisas que não entendem. Nós já rebentámos as prisões repetidas vezes, e abalámos em número de quatrocentos e cinquenta, só porque um recruta novo se pôs a contar histórias de cobras de chicote lá da nossa Austrália, até nos assustarmos mortalmente das pontas soltas dos nossos cabrestos.

- Isso compreende-se em acampamento - disse Biddy -, eu própria não estou livre de fugir de pânico, pela graça que lhe topo, quando estou presa um ou dois dias, mas que fazes tu em campanha?...

- Isso é muito diferente - disse o cavalo da tropa. - Ricardo Cunliffe em cima de mim aperta-me entre os joelhos e o que tenho a fazer é reparar onde poiso as patas, conservar as pernas de trás bem debaixo de mim e obedecer às rédeas.

- Que é obedecer às rédeas? - perguntou a mula nova.

- Valha-te um burro aos coices - roncou o cavalo de guerra. - Quererás tu dizer que no teu serviço não te ensinam a obedecer às rédeas? Como podes tu fazer seja o que for se não te sentires capaz de girar sobre ti mesma imediatamente, logo que a rédea seja esticada contra o pescoço? Isso é de importância vital para o teu cavaleiro, e, naturalmente, é questão de vida ou de morte para ti. Volta-te sobre as patas traseiras no instante em que sentires a rédea no pescoço. Não tendo espaço para girar, empina-te um bocadinho e roda sobre as patas traseiras. Obedecer às rédeas é isso.

- Não é isso que nos ensinou - disse a mula Biddy, muito senhora de si. - Ensinam-nos a obedecer ao homem que vai à frente: para fora quando diz assim e para dentro quando assim manda. Creio que é a mesma coisa.





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