Ora, com todos esses arrebiques de fantasia e de empinamento, que te devem fazer muito mal aos jarretes, que é que tu fazes?
- Isso é conforme - disse o cavalo de esquadrão. Geralmente tenho de meter-me no meio de uma multidão de homens peludos, a berrar, munidos de facas compridas, facas luzidias, piores que as facas dos ferradores -, e tenho de ter cuidado de que a bota de Ricardo roce apenas a bota do homem seguinte, sem a esmagar. Vejo a lança de Ricardo à direita do meu olho direito e sei que estou seguro. Não quereria estar no lugar do homem ou cavalo que enfrentasse Ricardo e a mim quando vamos com pressa.
- As facas não ferem? - perguntou a mula nova.
- Efectivamente, uma vez recebi um golpe no peito, mas não foi por culpa de Ricardo...
- Pouco me importaria de quem era a culpa, se doía - disse a mula nova.
- Mas é preciso - disse o cavalo. - Se não temos confiança no cavaleiro, seria melhor fugir já. É o que fazem alguns dos nossos cavalos, é não os censuro por isso. Como ia dizendo, não foi culpa de Ricardo. O homem estava deitado no chão, eu estiquei-me para o não pisar, e ele acutilou-me por baixo. Da próxima vez que tenha de passar por cima de um homem deitado no chão, calcá-lo-ei com força.
- Hem! - disse Biddy. - Parece tolice. As facas são coisas repugnantes em qualquer ocasião. O que se deve fazer é subir a uma montanha com uma sela bem equilibrada, confiar nas quatro patas e nas orelhas também, e avançar rastejando, rojando-se ou retorcendo-se, até chegar a um ponto, centenas de pés acima de todos, numa saliência onde há apenas espaço para as patas. Então ficamos imóveis e quietas, nunca peças a um homem que te segure a cabeça, menina, conserva-te quieta enquanto as peças estão a ser montadas e depois observa as granadas de estalinhos a caírem nas copas lá muito em baixo.
