O Livro da Selva - Cap. 2: A CAÇADA DE CÁ Pág. 29 / 158

Lembra-te disto!

- Vedado - disse Bàguirà. - Penso, no entanto, que Bálu te devia ter prevenido a seu respeito.

- Eu... eu? Como havia eu de adivinhar que ele ia brincar com tal lixo? O povo macaco! Eu!

Nova saraivada lhes caiu em cima e os dois fugiram dali, levando Máugli consigo. O que Bálu dissera dos macacos era absolutamente verdade. Pertenciam aos cumes das árvores, e como os brutos raro levantam os olhos para o ar, os macacos e gentes da Selva não precisavam de se cruzar no caminho. Mas sempre que davam com um lobo doente ou com um tigre ou urso ferido, os macacos apoquentavam-no e atiravam paus e frutos secos a qualquer animal para se divertirem, na esperança de serem notados. Berravam e gritavam cantos insensatos, e desafiavam as gentes da Selva a trepar às árvores para os combater, ou lançavam-se em violentos combates entre si por qualquer bagatela, e deixavam os macacos mortos em sítio onde a gente da Selva os visse. Estavam sempre em vésperas de ter um chefe, leis, e costumes próprios, mas nunca o conseguiam, porque lhes faltava a memória para fixar as coisas de um dia para o outro, por isso remediavam as coisas inventando o ditado: «O que os Bândarlougue pensam hoje, a Selva pensá-lo-á mais tarde.» E isso dava-lhes grande alívio. Nenhuma das feras lhes podia chegar, mas também nenhuma lhes dava atenção, e foi por isso que ficaram tão satisfeitos quando Máugli foi brincar com eles e souberam como Bálu se zangara.

Não tencionavam fazer mais nada - os Bândarlougue nunca têm intuitos, mas um deles inventou o que lhe pareceu uma ideia magnífica e disse aos outros que seria vantajoso conservar Máugli na tribo, porque sabia entrelaçar vergas para se proteger do vento, por isso, se o apanhassem, podiam obrigá-lo a ensiná-los.





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