O Livro da Selva - Cap. 2: A CAÇADA DE CÁ Pág. 30 / 158

Naturalmente, Máugli, como filho de lenhador, herdara toda a espécie de instintos e costumava fazer pequenas cabanas de ramos caídos, sem pensar no modo como aprendera, e o povo macaco, observando-o das árvores, julgava admiráveis os seus divertimentos. Desta vez, pensavam, iam realmente ter um chefe e tornar-se os mais sabedores dos habitantes da Selva -, tão sabedores que todos os demais os haviam de olhar e invejar. Por isso seguiram Bálu, Bàguirà e Máugli através da Selva, muito de mansinho, até chegar a hora da sesta do meio-dia; e Máugli, que estava muito envergonhado de si mesmo, adormeceu entre a pantera e o urso, resolvido a não querer mais contas com o povo macaco.

A primeira coisa de que depois se recordava foi de sentir mãos nas pernas e nos braços - pequenas mãos rijas e fortes O a seguir o raspar de ramos pela cara, depois olhava espantado através dos ramos agitados, no momento em que Bálu acordava a selva com os seus urros graves e Bàguirà investia pelo tronco da árvore acima, mostrando todos os dentes. Os Bândarlougue uivavam triunfantes e rasparam-se para os ramos superiores, onde Bàguirà não ousava segui-los, bradando: «Já reparou em nós! Bàguirà já reparou em nós! Todos os habitantes da Selva nos admiram pela nossa habilidade e astúcia.» E começaram então a fuga, e a fuga do povo macaco pela região das árvores é coisa impossível de descrever. Têm as suas estradas e atalhos regulares, subidas e descidas, tudo traçado entre cinquenta a setenta ou em pés acima do solo, e por eles são capazes de viajar mesmo de noite, se for preciso. Dois dos mais fortes entre os macacos seguraram Máugli por baixo dos braços e abalaram com ele pelos cimos, aos saltos de vinte pés cada. Se fossem sós, poderiam caminhar duas vezes mais depressa, mas o peso do rapaz retardava-os.





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