O Livro da Selva - Cap. 2: A CAÇADA DE CÁ Pág. 31 / 158

Embora enjoado e tonto, Máugli não pôde deixar de apreciar a furiosa investida, se bem que, ao avistar de relance a terra lá muito em baixo, se assustasse, conquanto a paragem e abalo terríveis no fim do baloiço, através do ar, vazio lhe fizessem subir o coração à boca. Os raptores escalavam velozmente com ele o cimo de uma árvore até que ele sentia estalar e dobrar-se com o peso os ramos mais delgados e cimeiros; depois, com uma tossidela e um grito, arremessavam-se para o vazio no sentido diagonal descendente, para pararem, pendurados pelas mãos ou pelos pés, nos ramos inferiores da árvore próxima. Por vezes conseguia ver a Selva verde e calma, na extensão de milhas e milhas, como quem, do topo de um mastro, avista a imensidão do mar; depois os ramos e folhas estalavam-lhe na cara e ele e os seus dois guardas estavam de novo quase em terra. E assim, pulando, estalando, guinchando e berrando, a tribo inteira dos Bândarlougue deslocou-se vertiginosamente pelas estradas das ramarias com o seu prisioneiro Máugli.

Este, a princípio, receou que o largassem, depois encolerizou-se, mas preferiu não resistir e pôs-se a reflectir. A primeira coisa a fazer era mandar aviso a Bálu, e a Bàguirà, pois que, à velocidade que os macacos se deslocavam, sabia que os seus amigos ficariam muito para trás. Era inútil olhar para baixo, pois não conseguia ver senão a parte superior dos ramos; olhou portanto para cima, e viu, muito longe, no azul, Tchil, o milhafre, pairando e circulando de sentinela à Selva, à espera da morte dos bichos. Tchil viu que os macacos transportavam qualquer coisa e baixou umas centenas de metros, para averiguar se a carga era coisa de comer. Assobiou de surpresa ao ver Máugli transportado para o cimo de uma árvore e ao ouvi-lo soltar o grito dos milhafres a dizer: «Somos do mesmo sangue, eu e tu.





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