Ao simples nome dela esfriam-lhes as malvadas caudas. Vamos ter com Cá!
- Que nos pode ela fazer? Não é da nossa tribo, visto que não tem pés, e tem olhos perversos - disse Bàguirà.
- É muito velha e astuta. E, acima de tudo, tem sempre fome - disse Bálu, esperançado. - Promete-lhe muitas cabras.
- Ela dorme um mês inteiro depois de comer. Pode estar a dormir agora, e, mesmo que esteja acordada, não preferirá matar as suas cabras? - Bàguirà, que mal conhecia Cá, era naturalmente desconfiada.
- Nesse caso, eu e tu, velha caçadora, poderíamos juntos abrir-lhe os olhos. - E Bálu esfregou a espádua pardacenta de encontro à pantera, e lá partiram os dois a procurar Cá, o pitão das rochas.
Encontraram-na estendida ao sol poente numa saliência soalheira, admirando a sua linda pele nova, porque passara dez dias recolhida a mudar a pele, e achava-se agora esplêndida atirando a grande cabeça de focinho rombo ao longo do chão e retorcendo os trinta pés de corpo em nós e curvas fantásticas, lambendo os beiços ao pensar no futuro jantar.
- Ainda não comeu - disse Bálu, com um grunhido de alívio, logo que viu o lindo casaco mosqueado de castanho e amarelo. - Acautela-te, Bàguirà! Ela fica um tanto cega depois de mudar de pele, e é muito rápida a morder.
Cá não era serpente venenosa - na verdade, desprezava até as serpentes venenosas por cobardes -, mas tinha força no abraço, e uma vez que envolvesse alguém nas suas roscas nada mais havia a dizer.
- Boa caça! - bradou Bálu, sentando-se nas ancas. Como todas as serpentes da sua raça, Cá era muito surda, e a princípio não ouviu a saudação. Depois enroscou-se pronta para o que desse e viesse, de cabeça baixa.
- Boa caça para todos nós - respondeu. - Oh!, Bálu, que fazes tu por aqui? Boa caça, Bàguirà.