O Livro da Selva - Cap. 2: A CAÇADA DE CÁ Pág. 40 / 158

Os macacos chamavam ao sítio a sua cidade e fingiam desprezar as gentes da Selva por viverem na floresta. E, todavia, não sabiam para que fim as construções haviam sido feitas, nem tão-pouco servir-se delas. Sentavam-se em círculos na grande sala do conselho do rei a coçar as pulgas e a fingir-se homens, ou entravam e saíam a correr das casas destelhadas, a juntar bocados de caliça e tijolos velhos a um canto, e esqueciam-se onde os tinham guardado, lutavam e guinchavam em multidões tumultuosas, depois dispersavam-se para brincar de um lado para o outro nos terraços do jardim real, onde, por divertimento, abanavam as roseiras e laranjeiras para ver cair os frutos e as flores. Exploravam todos os corredores e sombrios túneis do palácio e as centenas de quartinhos escuros, mas nunca se lembravam do que tinham e do que não tinham visto; e assim vagueavam aos dois e aos três, por vezes em bandos, a dizerem uns aos outros que estavam a proceder como os homens. Bebiam nos tanques e turvavam a água, depois batiam-se por ela, e a seguir precipitavam-se todos em chusma a bradar: «Não há na Selva ninguém tão sábio, bom e esperto, forte e delicado como os Bândarlougue.» Depois começavam de novo até se fartarem da cidade e voltavam para os cimos das árvores, na esperança de que a gente da Selva lhes daria atenção.

Máugli, que fora instruído na Lei da Selva, não apreciava nem compreendia este tipo de vida. Os macacos arrastaram-no para as Moradas Frias, tarde alta, e, em lugar de se irem deitar como Máugli teria feito depois de uma grande jornada, deram-se as mãos e puseram-se a dançar e a cantar os seus cantos loucos. Um dos macacos fez um discurso e disse aos companheiros que a captura de Máugli marcava novo rumo na história dos Bândarlougue, porque Máugli lhes ia ensinar a entrelaçar varas e bambus para se defenderem da chuva e do frio.





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