O Livro da Selva - Cap. 2: A CAÇADA DE CÁ Pág. 47 / 158

Eles podem atacar outra vez.

- Não se mexerão enquanto eu os não mandar. Deixa-te estar assim! - disse Cá. E a cidade recaiu mais uma vez em silêncio. - Não pude vir mais cedo, irmã, mas pareceu-me que te ouvi chamar (isto para Bàguirà).

- Eu... eu talvez gritasse no auge da batalha - respondeu Bàguirà. - Bálu, estás ferido?

- Não tenho a certeza de que me não desfizeram num cento de ursinhos - disse Bálu com gravidade, sacudindo uma perna após outra. - Di! Estou cheio de dores. Cá, devemos-te, creio eu, a vida. Eu e Bàguirà.

- Não tem importância. Onde está o homenzinho?

- Aqui numa ratoeira. Não posso subir o muro - bradou Máugli. A curva da abóbada desmantelada ficava-lhe acima da cabeça.

- Tirai-o daqui! Ele dança que nem o pavão Mao. Vai esborrachar-nos os filhos - disseram de dentro as cobras-capelo. - Ah! - disse Cá, rindo-se por entre dentes. - Tem amigos em toda a parte, este homúnculo. Afasta-te, homenzinho, e vós, raça de peçonha, escondei-vos, vou derrubar a parede.

Cá examinou o muro com atenção até descobrir uma fenda incolor no rendilhado de mármore a indicar um ponto fraco, deu-lhe duas ou três pancadas leves com a cabeça para calcular a distância, e depois, levantando seis palmos do corpo acima do chão desfechou meia dúzia de potentes marteladas com o focinho. O tapamento quebrou e ruiu em nuvem de pó e entulho, e Máugli saltou pela abertura e atirou-se entre Bálu e Bàguirà - com um braço em volta de cada um dos grossos pescoços.

- Estás ferido? - disse Bálu, abraçando-o brandamente.

- Estou cheio de dores e de fome, e bastante magoado; mas, oh, muito mal vos trataram, irmãos! Estais feridos.

- Não somos os únicos - disse Bàguirà, lambendo os beiços e indicando com o olhar os macacos mortos no terraço e em volta do tanque.





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