O Livro da Selva - Cap. 3: TIGRE! TIGRE! Pág. 61 / 158

Depois entoam infindas canções com estranhos trilas indígenas no final, o dia parece maior do que a vida inteira de muita gente, e talvez façam um castelo de argila com figuras de barro, de homens, cavalos e búfalos, metem canas na mão aos homens e fingem-se reis, com as figuras por seus exércitos, ou representam de deuses para serem adorados. Chega então a noite e os moços chamam os búfalos, que se arrancam pesadamente do lodo pegajoso com ruídos semelhantes a rajadas de tiros de espingarda, e todos seguem em fila através da planície cinzenta, de volta às luzes cintilantes da aldeia.

Dia após dia, Máugli conduzia os búfalos para os chafurdais, e diariamente via o lombo do Irmão Cinzento a milha e meia de distância, para lá da planície (sabia que Xer Cane não regressara), e dia após dia passava o tempo deitado na erva, escutando os ruídos à sua volta, a sonhar com os velhos tempos da Selva. Se Xer Cane tivesse tropeçado nas selvas do Ueinganga, Máugli tê-lo-ia ouvido naquelas longas manhãs calmas.

Chegou finalmente um dia em que não avistou o Irmão Cinzento no sítio marcado, e, rindo-se, tocou os búfalos para o barranco junto à daque, que estava coberta de flores de vermelho-ouro. Lá se achava o Irmão Cinzento com todas as cerdas do dorso eriçadas.

- Andou escondido durante um mês, para te desprevenir.

Atravessou as serras ontem à noite com Tábàqui e seguiu-te a toda a pressa no encalço - disse o lobo ofegante.

Máugli franziu a testa.

- De Xer Cane não tenho medo, mas Tábàqui é muito sabido.

- Nada receies - disse o Irmão Cinzento, lambendo um pouco os beiços -, encontrei Tábàqui ao romper da aurora. Agora está a comunicar toda a sua sabedoria aos milhafres, mas disse-me tudo a mim antes de lhe quebrar a espinha.





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