O Livro da Selva - Cap. 3: TIGRE! TIGRE! Pág. 64 / 158

Os outros pastorinhos, que a distância de meia milha observavam o gado, precipitaram-se para a aldeia a toda a pressa das pernas, bradando que os búfalos haviam enlouquecido e fugido.

Mas o plano de Máugli era extremamente simples. O que pretendia era fazer um grande rodeio encosta acima e chegar ao cimo da quebrada, e a seguir levar os touros a descê-la e apanhar Xer Cane entre eles e as vacas, pois sabia que, após uma refeição e tendo bebido à farta, Xer Cane não estaria em condições de se bater ou de escalar as paredes do barranco.

Tentava agora acalmar os búfalos com a voz, pois Àquêlà ficara muito para trás e só uma ou duas vezes gemeu para apressar a retaguarda. Foi um rodeio largo, porque não queriam aproximar-se da quebrada para não prevenir Xer Cane. Finalmente Máugli juntou a manada desvairada no cimo do desfiladeiro, num talhão de relva que descia abruptamente para a própria garganta. Daquela altura podia-se ver através das copas das árvores ate a planície, lá no fundo, mas aquilo para que Máugli olhava eram os taludes da quebrada, e viu com grande satisfação que eram quase verticais, e as vides e trepadeiras que os cobriam não dariam pé a um tigre que quisesse sair.

- Deixa-os tomar fôlego, Àquêlà - disse, erguendo a mão. - Ainda o não farejaram. Deixa-os respirar. Preciso de dizer a Xer Cane quem se aproxima. Temo-lo na ratoeira.

Levou as mãos à boca e bradou para a quebrada - era quase como gritar para dentro de um túnel-, os ecos repercutiram-se de rochedo em rochedo.

Passado um ror de tempo ouviu-se em resposta um ronco arrastado e sonolento de um tigre farto que acaba de despertar.

- Quem me chama? - disse Xer Cane. E um magnífico pavão saiu esvoaçando da quebrada, a guinchar.

- Sou eu, Máugli.





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