O Livro da Selva - Cap. 3: TIGRE! TIGRE! Pág. 66 / 158

Tal carga levou as duas manadas para a planície, escornando, estropeando e rugindo. Máugli esperou a ocasião e, descendo pelo cachaço de Rama, pôs-se a distribuir pauladas à direita e à esquerda com a vara.

- Depressa, Àquêlà! Dispersa-os. Separa-os, senão não tardam a atacar-se uns aos outros. Afugenta-os daqui, Àquêlà. Ai! Rama! Ai! Ai! Aai! Meus filhos, calma! Agora calma! Já passou tudo.

Àquêlà e Irmão Cinzento corriam de um lado para o outro mordendo os búfalos nas pernas, e, embora a manada rodasse uma vez para carregar de novo quebrada acima, Máugli conseguiu desviar Rama, e os outros seguiram-no, para os charcos.

Xer Cane não precisava de mais pisadelas. Estava morto e os milhafres já se dirigiam para ele.

- Irmãos, foi a morte de um cão - disse Máugli, procurando a faca que sempre trazia numa bainha pendurada a tiracolo desde que vivia com os homens. - Mas nunca ofereceria resistência. A pele dele ficará bem na Rocha do Conselho. Temos de nos despachar.

Um rapaz criado entre os homens nunca se lembraria de esfolar sozinho um tigre de dez pés, mas Máugli sabia melhor que ninguém como a pele de um animal está disposta e como se pode tirar. Mas era tarefa pesada, e Máugli cortou, arrancou e resmungou durante uma hora, enquanto os lobos deitavam a língua de fora ou se adiantavam a puxar como ele lhes ordenava.

De repente assentou-lhe uma palmada no ombro, e, erguendo os olhos, viu Buldeo com o mosquete da Torre. Os rapazes tinham contado na aldeia a fuga doida dos búfalos e Buldeo saiu zangado, muito pronto a corrigir Máugli por não cuidar melhor da manada. Os lobos eclipsaram-se logo que viram chegar o homem.

- Que loucura é esta? - disse Buldeo, exaltado. - Imaginar que és capaz de esfolar um tigre! Onde foi que os búfalos o mataram? E é o tigre coxo, e dão cem rupias pela sua cabeça.





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