O Livro da Selva - Cap. 4: A FOCA BRANCA Pág. 80 / 158

Matcá ensinou-o a seguir o bacalhau e o halibu, ao longo dos bancos submarinos, e a arrancar o cadoz do seu esconderijo no meio das algas; a ladear os navios naufragados a uma centena de braças debaixo de água e entrar como uma bala por uma vigia e sair pela outra, ao mesmo tempo que os peixes fugiam; a dançar no cimo das ondas quando o relâmpago cortava o céu em todas as direcções e a acenar cortesmente com a barbatana ao albatroz de rabo saroto e ao falcão-fragata, que seguiam com o vento; a dar um salto de três ou quatro pés acima da água, como um golfinho, de barbatanas apertadas ao corpo e cauda recurvada; a deixar em paz os peixes-voadores, que não têm senão espinhas; a arrancar a espádua a um bacalhau a toda a velocidade à profundidade de dez braças; a nunca se deter a olhar para um barco ou para um navio, mas sobretudo para um barco de remos. Ao cabo de seis meses, aquilo que Cótique desconhecia a respeito de pesca de alto mar não valia a pena saber-se, e durante todo este tempo nunca pusera barbatana em terra enxuta.

Um dia, porém, jazendo meio adormecido na água tépida nas proximidades da ilha de Juan Fernandes, sentiu profundo quebranto e inércia por todo o corpo, precisamente como acontece aos seres humanos quando lhes dá a Primavera nas pernas, e lembrou-se das boas praias firmes de Novastosná, a sete mil milhas dali, dos jogos a que os companheiros se entregavam, do cheiro das algas marinhas, do rugido das focas e dos combates. No mesmo instante virou para norte, a nadar decididamente, e, no caminho, encontrou dezenas de companheiros, todos com o mesmo destino, que lhe diziam:

- Cumprimentos, Cótique! Este ano somos todos holuchiqui e poderemos executar a dança do fogo na rebentação, ao largo de Lucanon, e retouçar na erva nova.





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