O Livro da Selva - Cap. 1: OS IRMÃOS DE MÁUGLI Pág. 9 / 158

- Falo eu pelo cachorro de homem. Um cachorro de homem não faz mal nenhum. Não sou orador, mas falo a verdade. Deixai-o andar na ale ateia e admiti-o como os outros. Eu próprio o ensinarei.

- Precisamos de outro ainda - disse Àquêlà. - Bálu já falou, que é mestre dos nossos lobitos novos. Quem o acompanha?

Uma sombra negra caiu dentro do círculo. Era Bàguirà, a pantera negra, preta retinta toda ela, mas com as manchas de pantera a aparecerem com certos reflexos como um padrão de seda ondeada. Todos conheciam Bàguirà e ninguém tinha desejos de se cruzar com ela, porque era tão astuta como Tábàqui, tão ousada como o búfalo selvagem e tão temível como o elefante ferido. Mas tinha a voz tão doce como o mel silvestre que pinga das árvores e a pele mais macia que penugem.

- Ó Àquêlà, e vós, gente livre - ronronou -, não tenho direito a participar na vossa reunião; mas a Lei da Selva declara que, havendo dúvida, e não sendo questão de morte a respeito de um lobito novo, a vida desse lobito pode comprar-se por certo preço. E a Lei não diz quem pode ou não pode pagar esse preço. Digo bem?

- Muito bem! Muito bem! - disseram os lobos novos, que andam sempre com fome. - Ouçam Bàguirà. O lobito pode ser comprado por um preço. É essa a Lei.

- Sabendo que não tenho direito de falar aqui, peço-vos licença.

- Fala, fala - bradaram vinte vozes.

- Matar um lobito nu é vergonha. Além disso, poderá divertir-vos mais quando crescer. Bálu falou em sua defesa. Às palavras de Bálu acrescento eu agora um touro, e por sinal bem gordo, morto de fresco, a menos de meia milha daqui, se quiserdes admitir o cachorro de homem, de acordo com a Lei. É coisa difícil?

Levantou-se um clamor de dezenas de vozes que bradavam: - Isso que importa? Morre com as chuvas de Inverno.





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