ARTHUR CONAN DOYLE
CONTOS DE MISTÉRIO
39
- Está a exibir as suas cartas, meu velho! - disse-lhe. Que juiz mais parcial! No fundo, não tem nada contra esse upo, excepto ISSO.
- Que quer? Conheço-a desde quando não era mais alta do que o seu cachimbo, e não gosto que corra riscos. Ora, corre um. Ele tem o ar de um animal selvagem. E possui um carácter de selvagem, um carácter venenoso. Recorda-se da zaragata com Long Norton?
- Não. Esquece-se sempre de que sou novo aqui.
- É verdade. O caso remonta ao último inverno. Claro que conhece o caminho próximo do ribeiro? Muitos rapazes passeavam-se por aí. À cabeça Bellingham. Cruzaram-se com uma velhota vendedeira no mercado. Tinha chovido, e sabe como ficam os campos quando choveu. O caminho passava entre o ribeiro e um grande charco que era quase tão largo. Ora bem, sabe o que fez este porco? Não se incomodou, continuou a direito, e empurrou a velho ta para a lama onde se sujou copiosamente, ela e as suas provisões. Era conduzir-se como um malandro! Long Norton, que é todavia o mais meigo dos homens, disse-lhe abertamente o que pensava. Uma palavra puxou outra; em conclusão, Norton aplicou-lhe uma grande bengalada entre os ombros. O caso causou escândalo, e nada é mais divertido do que ver a cabeça de Bellingham quando encontra Norton. Meu Deus, Smith, são quase onze horas!
- Não há nenhuma pressa! Acenda outro cachimbo.
- Não. Em princípio, estou em período de treino. E afinal fico para aqui a conversar em vez de estar bem tapadinho na minha cama! Vou pedir-lhe emprestado o seu crânio, se não lhe fizer diferença. Williams tem o meu há um mês. E vou também levar os ossinhos do ouvido, se me jurar que não lhe
fazem falta.
