Contos de Mistério - Cap. 2: O LOTE N° 249
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Obrigado. Não, não é preciso saco! Levarei tudo muito bem debaixo do braço. Boa noite, meu filho! E siga o meu conselho a propósito do seu vizinho.

Quando Hastie, munido do seu espólio anatómico, saiu, Abercrombie Smith atirou o cachimbo para dentro da cesta dos papéis: aproximando o cadeirão do candeeiro, mergulhou num enorme volume de capa verde, ilustrado por grandes mapas a cores que representam o reino estranho e íntimo de que somos os monarcas desditosos. Era um novato em Oxford, mas não era um debutante na Medicina; durante quatro anos trabalhara em Glasgow e em Berlim, e o exame que se aproximava devia permitir-lhe obter o diploma. Com os seus lábios firmes, a testa alta, as feições acusadas, anunciava-se como devendo ser um homem que, à falta de talentos notórios, mostraria tanta tenacidade, paciência e força que seria capaz, afinal, de ultrapassar o génio mais brilhante. Alguém que filia a sua linhagem entre Escoceses e Alemães do Norte não é de qualidade desprezível! Smith tinha deixado em Glasgowe em Berlim uma excelente. reputação; entendia merecer bem a mesma em Oxford à custa de trabalho e de disciplina.

Lia há coisa de uma hora quando ouviu subitamente um ruído estranho: um som intenso, agudo em todo o caso; algo como a inspiração sibilante de um homem que respira sob o efeito de uma emoção forte. Smith pousou o livro e apurou o ouvido. Como não havia ninguém ao lado nem por cima dele, o ruído provinha certamente do seu vizinho do andar inferior, do estudante de quem Hastie traçara um retrato pouco lisonjeiro. Smith só o conhecia sob o aspecto de um rapaz pálido com carnes moles que tinha hábitos de silêncio e de trabalho e cujo candeeiro projectava uma barra dourada sobre a velha

torrinha mesmo depois de ele ter apagado o seu.





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