Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 4: O GATO DO BRASIL

Página 102
Agarrado ao ferro, estreitando-o com desespero, deixei-me arrastar assim ao longo da jaula. Por fim, com os pulsos enfraquecidos, os dedos doridos, abandonei esta luta desigual. A grade vibrou quando a larguei. No instante seguinte, ouvi nas lajes do corredor um arrastar de babuchas. A porta do fundo bateu. e tudo voltou a ficar em silêncio.

O animal, porém, não se tinha mexido; mantivera-se agachado no seu canto; a cauda parara de bater. Esta aparição de um homem agarrado aos varões e arrastado aos berros diante dele tinha-o quase hipnotizado. Os seus olhos dardejavam sobre mim o seu brilho fixo. Ao agarrar os varões, eu tinha deixado cair a lanterna, mas ela continuava a arder no chão. Fiz um gesto para apanhá-la, imaginando vagamente que esta luz me traria alguma protecção: o animal fez logo ouvir uma ameaça. Parei, imobilizei-me. Arrepios de febre percorriam-me todos os membros. O gato, se é que pode dar-se a um ser tão horrível um nome tão doméstico, estava apenas a uns três metros de mim. As suas pupilas reluziam como dois discos de fósforo. Terrificava-me e fascinava-me. Os meus olhos não conseguiam desviar-se dos seus. A natureza, em instantes assim, compraz-se connosco em jogos fantásticos: via crescer e decrescer regularmente as duas luzes vacilantes; ora pareciam minúsculos pontos de ouro muito brilhantes, como faíscas eléctricas nas trevas; ora dilatavam-se, dilatavam-se até encherem com a sua móvel e sinistra claridade todo aquele canto da sala. Bruscamente, apagaram-se ao mesmo tempo.

O animal tinha fechado os olhos. Não sei o que vale exactamente a velha crença na autoridade do olhar humano; ignoro igualmente se o enorme gato não estaria adormecido apenas; o caso é que longe de manifestar qualquer veleidade de ataque, ele descansava entre as patas dianteiras a cabeça negra e lisa, como se dormitasse.

<< Página Anterior

pág. 102 (Capítulo 4)

Página Seguinte >>

Capa do livro Histórias Extraordinárias
Páginas: 136
Página atual: 102

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
MÃO ESCURA 1
O CASO DE LADY SANNOX 19
O PARASITA 31
O GATO DO BRASIL 89
O FUNIL DE CABEDAL 113
O QUARTO DO PESADELO 127