Era terrível!
- Foi, portanto, o senhor quem gritou?
- Acho que sim.
- O grito ecoou em toda a casa. Os criados ficaram apavorados...
Esfregou um fósforo e acendeu o candeeiro. - Penso que podemos atiçar o lume...
Atirou alguma lenha para cima das brasas ainda incandescentes.
- Meu Deus, como está pálido, caro amigo! Poderia jurar-se que acaba de ver um fantasma.
- Vi sim... Vários!
- O funil de cabedal desempenhou então bem o seu papel?
- Nem por todo o ouro do mundo gostaria de dormir mais uma vez junto deste objecto infernal.
Dacre emitiu uma risada.
- Tinha esperado que passasse uma noite um pouco animada - disse-me ele. - Mas obteve a sua vingança, porque o seu grito não era muito agradável de ouvir às duas da manhã. Pelo que disse, imagino que tenha visto toda essa coisa medonha?
- Que coisa medonha?
- O suplício da água. A «questão extraordinária» como se dizia no tempo do Rei Sol. Aguentou até ao fim?
- Não, graças a Deus! Acordei antes de tudo isso começar a sério.
- Ah, foi melhor para si! Eu resisti até ao terceiro balde. Afinal, é uma velha história; os heróis estão agora todos enterrados! Sem dúvida não faz a mínima ideia da cena a que assistiu?
- O suplício de uma criminosa qualquer. Devia ter cometido crimes abomináveis para merecer um tal castigo.
-. A verdade é que beneficiamos desta pequena consolação - respondeu-me Dacre enquanto se envolvia no roupão e se aproximava do lume. - Os seus crimes estiveram na proporção do castigo. Pelo menos se não me enganei na identidade da alma.
- Como conseguiu descobrir a sua identidade?
Como única resposta, Dacre tirou de uma prateleira um volume antigo.
- Ouça isto - disse-me. - Julgará por si próprio se encontrei a solução do enigma: ''A prisioneira foi trazida à presença da Grande Câmara do Parlamento, a funcionar como tribunal, sob a inculpação de ter assassinado M.