Histórias Extraordinárias - Cap. 3: O PARASITA Pág. 57 / 136

Sentia uma inquietude, uma agitação estranha, e saí para ir passar o serão com Agathe e a mãe.

Ambas notaram que eu estava com um ar pálido e esgazeado.

Cerca das nove horas, o professor Pratt-Haldane entrou e começámos a jogar whist.

Fiz grandes esforços para concentrar a atenção nas cartas, mas a sensação de agitação febril continuou a crescer, a tal ponto que me julguei incapaz de vencê-la.

Isso foi-me muito simplesmente impossível.

Por último, mesmo no decurso de uma distribuição de cartas, atirei as minhas para a mesa. Tartamudeei algumas desculpas incoerentes acerca de um encontro, e precipitei-me para fora da sala.

Tenho uma vaga lembrança, como a de um sonho, de haver percorrido o vestíbulo em passo de corrida, de ter de certo modo arrancado o meu chapéu do cabide e atirado violentamente com a porta ao sair.

Revejo também, como num sonho, o encadeado dos bicos de gás, e o meu calçado sujo de lama prova-me que devo ter seguido pelo meio da rua a correr.

Tudo tinha um ar velado, estranho, irreal. Fui a casa dos Wilson.

Vi mrs. Wilson, vi miss Penelosa.

Pouco me recorda do que conversámos, mas lembro-me de que miss Penelosa me ameaçou por brincadeira com o castão da bengala, me acusou de estar atrasado e de já não me interessar muito pelas nossas experiências.

Não houve magnetização, mas fiquei lá alguns instantes e acabo de regressar a casa.

O meu cérebro recobrou agora a sua clareza e posso reflectir sobre o que se passou.

É absurdo atribuir tudo à fraqueza e à força do hábito. Na outra noite, tentei explicar a coisa desta maneira, mas já não é suficiente.

É algo de mais profundo e de mais terrível também. Quando estava em casa dos Marden, diante da mesa de jogo, fui puxado como se tivesse um nó corrediço passado no pescoço.





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