Já não consigo ocultar isso a mim mesmo.
Esta mulher assentou a sua garra em mim: agarrou-me com essa garra; mas devo manter o sangue-frio e encontrar através da razão um meio de livrar-me dela.
Mas que grande louco cego eu fui!
No entusiasmo que me inspirava o meu estudo, segui direito ao abismo, que estava ali escancarado à minha frente.
Não foi ela própria a avisar-me? Não me disse - e isso eu encontro no meu diário - que quando adquiriu poder sobre um paciente, consegue forçá-lo a fazer o que ela quiser?
E adquiriu esse poder sobre mim.
Por agora, eis-me às ordens, à disposição da mulher da muleta.
Quando ela quer que vá, eu devo ir. Devo -fazer o que lhe aprouver.
E o pior é que devo manifestar sentimentos que lhe agradem.
Abomino-a e temo-a, e, no entanto, quando estou sob a sua influência mágica, ela pode obrigar-me a amá-la, estou certo disso.
O que me dá algum consolo é que estes odiosos impulsos, de que me arrependo, não provêm de modo nenhum de mim.
Tudo isto passa dela para dentro de mim, embora eu não fizesse a mínima ideia disso nos primeiros tempos.
Esta ideia dá-me a sensação de estar mais limpo e mais solto.
8 de Abril. Sim, agora em pleno dia, numa altura em que estou perfeitamente de sangue-frio, e em que disponho de tempo para reflectir, vejo-me constrangido a confirmar tudo o que encontro no meu diário da noite anterior.
Estou numa situação horrível, mas seja o que for que suceda, não devo perder a cabeça: tenho de firmar a minha inteligência contra o seu poder.
Afinal, não sou um fantoche imbecil que se obriga a dançar na ponta de um cordel.
Tenho energia, inteligência, coragem.
Mau grado todas as suas artimanhas diabólicas, ainda a posso vencer.