10 de Abril. Tudo decorreu muito bem no último serão. A cara do jardineiro era divertida esta manhã, quando tive de tornar a chamá-lo e a pedir-lhe que me atirasse a chave.
Ainda vou ganhar má reputação entre os criados se esta coisa recomeça. Mas o importante é que fiquei em casa sem sentir a mínima necessidade de sair.
Suponho que começo a libertar-me desta inacreditável servidão, a menos que muito simplesmente o poder daquela mulher continue posto em cheque até ao dia em que recobrar as forças. Só posso orar ao Céu para que seja a alternativa mais favorável.
As Marden vão partir esta manhã e parece-me que o sol primaveril perdeu todo o seu brilho. E no entanto é muito belo para a vista, derramado sobre o castanheiro verde situado em frente das minhas janelas, e, que dá um ar de alegria às paredes espessas e manchadas de líquenes dos colégios antigos.
Como a Natureza é doce e acariciadora e calmante!
Como acreditar que encobre também forças tão impuras, possibilidades tão odiosas?
Compreendo, na verdade, que esta coisa terrível que surgiu sobre mim não está nem acima da Natureza nem fora dela.
Não, é uma força natural, de que esta mulher pode fazer uso e que a sociedade ignora.
O próprio facto de a força oscilar com a sua saúde mostra o quanto ela se acha completamente subordinada às leis físicas.
Se tivesse tempo, poderia ir até ao fundo, e deitar a mão ao antídoto. Mas não é quando se está nas garras do tigre que se pode pensar em domesticá-lo; tudo o que se tem de fazer é livrarmo-nos à força de safanões.
Ah!, quando me contemplo ao espelho e aí vejo os meus olhos negros e a minha cara de espanhol com feições muito nítidas, gostaria de ter sido atingido pelo vitríolo ou marcado pelas bexigas.
