Histórias Extraordinárias - Cap. 3: O PARASITA Pág. 80 / 136

Na noite passada, eu estava inconsciente.

Teria podido jurar que tinha ficado a dormir profundamente na minha cama, sem ter sequer sonhado.

E, no entanto, ali estavam manchas que provam que me vesti, que saí, que tentei arrombar as janelas do banco e que regressei.

Fui visto?

É possível que me tenham visto em acção, que me tenham seguido até casa.

Ah, que inferno passou a ser a minha vida! Deixei de ter paz, ou descanso. Mas a minha paciência está prestes a acabar.

10 da noite. Limpei o casaco com terebentina. Não penso que me tenham visto.

Foi com a minha chave de parafusos que fiz as marcas.

Encontrei-a toda manchada de pintura e lavei-a.

A cabeça dói-me como se fosse rebentar. Tomei cinco grãos de antipirina.

Se não fosse Agathe, teria tomado cinquenta, e estaria tudo acabado.

3 de Maio. Três dias de tranquilidade.

Esta maldita mulher infernal procede como o gato com o rato.

Só me larga para saltar mais uma vez para cima de mim. Nunca sinto tanto medo como quando tudo está calmo.

O meu estado físico é deplorável: soluços constantes e descaimento da pálpebra esquerda.

Ouvi dizer que as Marden voltam depois de amanhã. Não sei se fico contente ou zangado. Elas estavam em segurança em Londres; uma vez aqui, podem ser apanhadas pela teia de desgraça em que me debato eu próprio. E preciso de falar-lhes sobre isto.

É-me impossível desposar Agathe, enquanto não estiver certo de ser responsável pelos meus actos.

Sim, tenho de falar-lhes sobre isto, mesmo que tal conduza a uma ruptura entre nós.

Esta noite, é o baile da Universidade, e tenho que lá ir.

Só Deus sabe que nunca me senti tão pouco disposto a divertir-me, mas ninguém poderá dizer que não me encontro em estado de apresentar-me em público.





Os capítulos deste livro