Meio-dia. As coisas encontram-se num ponto crítico.
A minha vida já não vale a pena ser vivida. Mas se devo morrer, ela deverá morrer também. Não admito que me sobreviva para compelir um outro à loucura como me compeliu a mim. Não, atingi o limite da paciência.
Fez de mim o ser mais desesperado, mais perigoso que existe na terra. Deus bem sabe que nunca fui capaz de fazer mal a uma mosca e, no entanto, se deitasse a mão a essa mulher ela não sairia viva daqui.
Irei falar-lhe hoje e ficará a saber o que deve esperar de num.
Fui a casa de Sadler, e fiquei muito surpreendido por encontrá-lo deitado.
Quando me viu entrar, sentou-se e mostrou-me um rosto cuja visão me comoveu.
- Ora bem, Sadler - exclamei -, o que sucedeu? Mas o meu coração gelou enquanto falava.
- Gilroy - respondeu-me ele, por entre os lábios tumeficados -, há semanas, algumas semanas, perguntava-me se não teria enlouquecido. Agora tenho a certeza e tenho, além disso, a certeza de que é um louco perigoso. Se não tivesse sido refreado pelo temor do escândalo que daí resultaria para o colégio, estaria a estas horas nas mãos da polícia.
- Que quer dizer? - exclamei.
-Aqui tem o que quero dizer. Ontem à noite, mal abri a porta, correu para mim, bateu-me com os dois punhos na cara, atirou-me ao chão, deu-me furiosos pontapés nas costelas e deixou-me quase desmaiado na rua. Olhe para a sua mão! Serve de testemunha contra si.
Sim, é verdade; a minha mão estava inchada a partir do punho devido a uma espécie de excrescência, como depois de ter levado uma pancada terrível.
Que fazer?
Embora estivesse convencido da minha loucura, devia dizer-lhe tudo.
Sentei-me ao lado da cama e contei-lhe todos os meus tormentos desde o princípio.