O animal apanhou-o com um salto, levou-o para o seu canto e, segurando-o entre as patas, pôs-se a despedaçá-lo. O focinho sangrento erguia-se regularmente e olhava para nós. Era um espectáculo ao mesmo tempo apaixonante e atroz.
- Não lhe causará espanto, espero - disse-me o meu anfitrião quando deixámos a sala -, que eu goste muito deste animal, sobretudo se considerar que tive de criá-lo. Não foi coisa simples trazê-lo para aqui dos confins da América. Ei-lo são e salvo; e é, como lhe disse, o mais belo exemplar que existe na Europa. A gente do jardim zoológico morre de inveja, mas não posso realmente desfazer-me dele. E agora que me parece já ter-lhe ocupado tempo a mais com este assunto, sigamos o exemplo de Tommy: vamos jantar!
Ao ver o quanto o absorviam o seu domínio e os seus estranhos pensionistas, não imaginei na altura outras preocupações para o meu primo da América. Que, no entanto, as tinha, e urgentes, fui de imediato obrigado a aperceber-me devido à quantidade de telegramas que ele recebia a todas as horas. Abria-os com um gesto febril, percorria-os com um olhar inquieto. Sem dúvida jogava nas corridas ou na Bolsa; em todo o caso, tinha certamente em curso um negócio urgente, e que decorria fora das falésias do Suffolk. Durante os seis dias da minha visita, recebeu pelo menos cada dia três telegramas; e o seu número chegou algumas vezes a sete ou oito.
Eu havia empregado tão bem o tempo que as nossas relações se tinham tornado das mais afectuosas. Todas as noites ficávamos a jogar bilhar até tarde. Ele fazia narrativas extraordinárias das suas aventuras na América; aventuras tão audaciosas, tão loucas que o meu espírito as associava dificilmente à ideia do homenzinho moreno e bochechudo sentado ali à minha frente.