O Dia em que o Mundo Acabou - Cap. 2: Capítulo 2 Pág. 28 / 72

Uma vez, vi Lorde John levar repentinamente a mão aos olhos, e outra vez Summerlee recostou-se durante alguns instantes na sua cadeira. Cada inspiração nossa estava carregada de forças estranhas. E apesar disso as nossas mentes estavam felizes e descontraídas. Naquele momento, Austin pousou os cigarros em cima da mesa e preparou-se para se retirar.

- Austin! - disse o patrão.

- Sim, senhor?

- Quero agradecer o teu serviço leal.

O rosto rugoso do criado iluminou-se num sorriso.

- Cumpri o meu dever, senhor.

- Estou convencido de que o fim do mundo será hoje, Austin.

- Sim, senhor. A que horas, senhor?

- Não posso dizer, Austin. Antes da noite.

- Muito bem, senhor.

O taciturno Austin fez uma vénia e retirou-se. Challenger acendeu um cigarro e, voltando a cadeira para a da mulher, pegou na mão dela.

- Tu sabes como estão as coisas, querida - disse ele.

- Também expliquei aos nossos amigos. Não tens medo, pois não?

- Não será doloroso, George?

- Não mais do que o gás hilariante no dentista. De cada vez que tiveste de ser submetida a ele, quase morreste. - Mas é uma sensação agradável.

- E a morte talvez também seja. A máquina do corpo esgotado não pode registar a sua impressão, mas conhecemos o prazer mental que está associado a um sonho ou um transe. A natureza pode construir uma porta muito bela e pendurar-lhe uma cortina transparente e esvoaçante para criar a entrada na nova vida para as nossas almas surpreendidas. Em todas as minhas investigações sobre a morte, encontrei sempre sabedoria e bondade no centro; e se alguma vez o mortal assustado precisa de ternura; é seguramente quando faz a passagem perigosa de uma vida para a outra. Não, Summerlee, não terei nenhum do seu materialismo, pois eu, pelo menos, sou uma coisa demasiado grande para terminar em meros constituintes físicos, um pacote de sais e três baldes cheios de água. Aqui... aqui... - e bateu na grande cabeça com o punho enorme e peludo - há uma coisa que usa matéria, mas não é dela ... algo que poderia destruir a morte, mas que a Morte nunca poderá destruir.

- Por falar em morte - disse Lorde John -, eu sou uma espécie de Cristão, mas parece-me que havia algo de poderosamente natural naqueles nossos antepassados que eram enterrados com os seus machados e arcos e flechas e afins, como se continuassem a viver da mesma forma que costumavam. Não sei - acrescentou ele, olhando em volta da mesa com uma expressão envergonhada - se não me sentiria mais seguro se fosse enterrado com a minha velha .450 Express e com a espingarda de chumbos, a mais pequena com a coronha forrada a borracha, e uma caixa ou duas de cartuchos... apenas o desejo de um louco, é claro, mas é o que penso. Que lhe parece, Professor?





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