O Sinal dos Quatro - Cap. 12: 12 - A Estranha História de Jonathan Small Pág. 109 / 133

»Mas não estava destinado a ser soldado. Mal aprendera a marchar e a pegar na arma, quando me deu na cabeça ir nadar no Ganges. Felizmente, o sargento da companhia, John Holder, estava também na água e era um grande nadador. Um crocodilo apanhou-me a meio do rio e arrancou-me a perna direita, como se fosse um cirurgião, mesmo acima do joelho. Com o choque e a perda de sangue desmaiei e ter-me-ia afogado se Holder não me trouxesse para terra. Estive cinco meses no hospital e, quando saí de lá a coxear, com uma perna de pau, vi-me inválido para o exército ou para qualquer outra ocupação activa.

»A vida corria-me mal nessa altura, como podem imaginar, pois era um aleijado inútil, apesar de ainda não ter vinte anos. Mas a minha desgraça cedo se tornou uma bênção. Um homem chamado Abel White, que fora para a Índia como plantador de indigueiros, queria um capataz que vigiasse os nativos e os fizesse trabalhar. Era amigo do nosso coronel, que se interessara por mim depois do acidente. Encurtando a história: o coronel recomendou-me muito para o lugar, e, como a maior parte do trabalho era para ser feita a cavalo, a minha perna não era um grande obstáculo, pois ainda tinha bastante firmeza para me manter bem montado na sela. O que tinha de fazer era andar pela plantação, vigiar os homens enquanto trabalhavam e dizer quais eram os preguiçosos. O pagamento era justo. O patrão ia muitas vezes à minha barraca e fumava um cachimbo comigo, pois lá os homens brancos sentem uma simpatia uns pelos outros como aqui não se vê.

»Bem, a sorte não esteve durante muito tempo do meu lado. De repente, sem que ninguém o esperasse, rebentaram grandes motins contra nós. A dada altura a Índia estava tão tranquila e em paz, segundo parecia, como Surrey ou Kent; um mês depois havia dois mil malditos indianos amotinados: o país era um perfeito inferno.





Os capítulos deste livro