O Sinal dos Quatro - Cap. 12: 12 - A Estranha História de Jonathan Small Pág. 124 / 133

Muitas vezes, quando me sentia só, apagava o candeeiro e ficava ali a ouvi-los falar e a vê-los jogar. Também gosto de jogar às cartas e vê-los jogar era quase tão bom como ser eu próprio a jogar. Estavam lá o major Sholto, o capitão Morstan e o tenente Bromley Brown, que comandavam as tropas nativas, o cirurgião e dois ou três funcionários da prisão, batidos nas cartas e que eram muito matreiros a jogar. Faziam uma linda pandilha...

»Bem, reparei, logo numa coisa: os soldados costumavam perder sempre, e os civis ganhar. Vejam, não digo que houvesse batota, mas era assim. Os tipos da prisão pouco mais faziam que jogar às cartas, desde que estavam em Andamão, e conheciam até certo ponto o jogo uns dos outros, enquanto os militares jogavam só para passar o tempo e deitavam as cartas de qualquer maneira. Cada noite que passava, mais pobres os soldados ficavam, e quanto mais pobres ficavam mais queriam jogar. O major Sholto perdia muito. Costumava pagar com notas e ouro, a princípio, mas depois começou a passar promissórias sobre grandes quantias. Às vezes ganhava, o que o animava um bocado mas logo a sorte se virava outra vez contra ele. Andava todo o dia com um ar sombrio e começou a beber mais do que devia.

»Certa noite perdeu mais do que era costume. Eu estava sentado na minha barraca quando o vi e ao capitão Morstan a caminho dos seus alojamentos. Eram os dois muito amigos e nunca se separavam. O major estava furioso por causa das dívidas.

»«Está tudo acabado, Morstan», dizia ele, quando passaram ao pé da minha barraca. «Estou cheio de dívidas. Sou um homem arruinado.»

»«Que disparate, meu velho!», dizia o outro, dando-lhe palmadas nas costas. «Também tive dificuldades, mas...» Foi tudo o que ouvi, mas bastou para me pôr a pensar.





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