Ali estávamos os quatro presos para toda a vida, mas conhecendo o segredo de um tesouro que nos permitiria viver num palácio se o pudéssemos usar. Era suficiente para um homem ficar desesperado ter de suportar os pontapés e os murros de um qualquer funcionariozinho, comer arroz e beber água, quando uma fortuna fantástica estava lá fora só à espera que a fossem buscar. Quase que fiquei louco; mas sempre fui teimoso, por isso aguentei e esperei que chegasse a minha vez.
»Por fim pareceu-me que chegara. Fui transferido de Agra para Madrasta, e dali para Blair, uma das ilhas Andamão. Havia muito poucos condenados brancos nesta colónia, e, como me comportara bem, passei a ser uma espécie de pessoa privilegiada. Deram-me uma barraca em Hope Town, que é uma terra pequena na encosta do monte Harriet, e deixavam-me andar à vontade. É um lugar horrível, onde se apanham febres, e, fora do terreno por nós desbravado, estava infestado de nativos canibais, sempre prontos a soprar-nos um dardo envenenado se tivessem oportunidade. Cavávamos, abríamos valas, trabalhávamos nas plantações de inhame, e havia mais uma dúzia de coisas para fazer, de modo que estávamos ocupados todo o dia; mas, ao fim da tarde, tínhamos algum tempo por nossa conta. Entre outras coisas, aprendi a preparar remédios para o cirurgião e fiquei com umas luzes acerca disso. Estava sempre à espera de uma oportunidade para fugir; mas as ilhas ficam a centenas de quilómetros de qualquer outra terra, e naqueles mares há pouco ou nenhum vento: era muito difícil sair dali.
»O cirurgião, o Dr. Somertone, era um tipo novo e folgazão. Os outros oficiais costumavam encontrar-se em casa dele, ao fim da tarde, para jogar às cartas. O gabinete onde costumava preparar os meus remédios era ao lado da sala de estar do médico, havendo uma pequena janela por onde os podia ver.