O Sinal dos Quatro - Cap. 1: 1 - A Ciência da Dedução Pág. 2 / 133

Não me posso dar ao luxo de o submeter a um esforço suplementar.

Sorriu perante a minha veemência.

- Talvez tenha razão, Watson. Creio que a influência da cocaína é fisicamente prejudicial. Acho-a, no entanto, tão transcendentemente estimulante e esclarecedora para o espírito que os seus efeitos secundários deixam de ter grande importância.

- Mas repare! - disse eu seriamente. - Quantos inconvenientes! O seu cérebro, Gomo afirma, pode ficar desperto e excitado, mas trata-se de um processo patológico e mórbido que envolve uma elevada substituição de tecidos e pode, pelo menos, provocar uma permanente fraqueza. Sabe também como é negativa a reacção posterior. Na verdade, o jogo é demasiado arriscado para valer a pena. 'Por que há-de, para obter um mero prazer passageiro, arriscar-se a perder as preciosas faculdades com que foi dotado? Lembre-se que falo não apenas como amigo, mas também como médico, tendo em conta que, de algum modo, sou responsável pela sua saúde.

Não pareceu ofender-se. Pelo contrário, uniu as pontas dos dedos e assentou os cotovelos sobre os braços da cadeira, como se estivesse a preparar-se para uma agradável conversa.

- O meu espírito - disse - não suporta a estagnação.

Dêem-me problemas, dêem-me trabalho, dêem-me o mais abstruso criptograma, ou a análise mais intrincada, e sinto-me na atmosfera que me é própria. Posso então dispensar estimulantes artificiais. Mas abomino a monótona rotina da existência. Necessito imperiosamente de exaltação do espírito. Por isso escolhi esta minha profissão específica, ou melhor, criei-a, pois sou o único no mundo.

- O único detective não oficial? - perguntei, erguendo as sobrancelhas.

- O único detective consultivo não oficial - respondeu.





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