O Sinal dos Quatro - Cap. 4: 4 - A História do Homem Calvo Pág. 29 / 133

»Quando entrámos no seu quarto, estava encostado a algumas almofadas e respirava pesadamente. Pediu-nos para fecharmos a porta e para nos aproximarmos cada um de um lado da cama. Então, agarrando as nossas mãos fez-nos uma notável declaração numa voz cheia de emoção e, também, de dor. Vou tentar reproduzi-la nas suas próprias palavras.

»«Só há uma coisa», disse ele, «que me pesa na consciência neste último momento. É a minha conduta em relação à pobre órfã Morstan. Esta maldita cobiça, que tem sido o grande pecado da minha vida, afastou-a do tesouro da metade dele, pelo menos, a que tinha direito. E tão insensata é a avareza que nem eu próprio tirei partido dele. O simples sentimento de posse era-me tão querido que não suportaria dividi-lo com alguém. Vejam aquele colar de Pérolas ao lado do frasco de quinino. Nem isso consegui partilhar, embora tivesse a intenção de lho enviar. Vós, meus filhos, ficais encarregados de lhe dar a sua parte do tesouro de Agra. Mas nada lhe enviem, nem sequer o colar antes de eu partir. Apesar de estar tão mal, ainda talvez possa recompor-me.»

»«Vou dizer-vos como morreu Morstan», prosseguiu. «Durante anos sofreu do coração, mas ocultou esse facto a toda a gente. Só eu sabia. Quando estávamos na Índia sucedeu que, devido a uma notável série de circunstâncias nos tornámos donos de um grande tesouro. Trouxe-o para Inglaterra. Na noite da sua chegada; Morstan dirigiu-se imediatamente para aqui com a intenção de reclamar a parte a que tinha direito, Veio da estação e 'foi recebido pelo meu velho e leal Lal Chowdar, que já morreu. Morstan e eu não chegámos a acordo quanto à divisão do tesouro e discutimos acaloradamente. Morstan levantara-se da cadeira, extremamente irado, quando repentinamente levou a mão ao peito, ficou roxo e caiu para trás, fazendo um golpe na cabeça ao bater na esquina do cofre do tesouro.





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