O Sinal dos Quatro - Cap. 4: 4 - A História do Homem Calvo Pág. 28 / 133

»Lembro-me muito bem da sensação causada pelo desaparecimento do capitão Morstan. Lemos os pormenores nos jornais e, sabendo que ele fora amigo do nosso pai, discutimos abertamente o caso na sua presença. Costumava juntar-se-nos nas nossas especulações acerca do que poderia ter acontecido. Nem por um instante suspeitámos de que ele conhecia todo o segredo, de que entre todos os homens apenas ele conhecia o destino de Arthur Morstan.

»Sabíamos, porém, que algum mistério, algum perigo real, pairava sobre o nosso pai. Tinha muito medo de sair sozinho e mantinha sempre dois pugilistas como porteiros em Pondicherry Lodge. Williams, que vos trouxe esta noite, era um deles. Foi em tempos campeão de pesos leves em Inglaterra. O nosso pai nunca nos disse o que temia, mas tinha uma evidente aversão a homens com pernas de pau. Em certa ocasião chegou até a disparar um tiro de revólver sobre um homem com uma perna de pau que era afinal um inofensivo comerciante à procura de encomendas. Tivemos de pagar uma grande soma para abafar o assunto. Eu e o meu irmão pensávamos que se tratara de um mero capricho do nosso pai, mas acontecimentos posteriores fizeram-nos mudar de opinião.

»No princípio de 1882 o meu pai recebeu uma carta da Índia que lhe causou um grande choque. Quase que desmaiou à mesa do pequeno-almoço quando a abriu e, desde esse dia, ficou doente até morrer. O que estava na carta nunca conseguimos saber, mas pude ver, enquanto ele a segurava, que era curta e escrita com letra apressada e irregular. Há anos que o meu pai sofria de uma grande depressão, mas então piorou rapidamente. Em finais de Abril fomos informados de que já não havia qualquer esperança de vida e que ele queria falar-nos pela última vez.





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