- Conheço um cão que seguiria este cheiro até ao fim do mundo. Se uma matilha consegue farejar a caça através do condado, não iria um cão especialmente treinado muito mais longe atrás de um cheiro tão intenso como este? Parece-me tão óbvio como uma regra de três simples. A solução será... Mas... creio que chegaram os representantes oficiais da lei.
Ouviam-se pesados passos e o clamor de vozes. No andar inferior a porta do vestíbulo bateu ruidosamente.
- Antes que cheguem - disse Holmes -, apalpe o braço e a perna deste desgraçado. Que sente?
- Os músculos estão tão rígidos que parecem de madeira - respondi.
- Exacto. Estão extremamente contraídos, excedendo muito o habitual rigor mortis. Tendo também em conta a distorção do rosto, este sorriso hipocrático, ou risus sardonicus, como o velho escritor lhe chama, que conclusão tira?
- Morte devida à acção de um forte alcalóide vegetal - respondi -, qualquer substância como a estricnina que provoca o tétano.
- Foi a ideia que me ocorreu quando vi os músculos contraídos do rosto. Ao entrar na sala procurei imediatamente saber de que modo o veneno penetrara no organismo. Como viu, descobri um espinho espetado pouco profundamente no couro cabeludo. A parte atingida foi a que ficaria voltada para o buraco do tecto se o homem estivesse sentado na cadeira. Agora examine este espinho.
Peguei-lhe cuidadosamente e observei-o sob a luz da lanterna. Era comprido, aguçado, negro. A ponta brilhava como se estivesse coberta de uma substância gomosa que secara. A extremidade aguçada fora aparada e afiada com uma faca.
- É um espinho inglês? - perguntou Holmes.
- Não, claro que não é.
- Com todos estes dados poderia chegar a uma conclusão. Mas aqui está a polícia, por isso as forças auxiliares devem bater em retirada.