O Sinal dos Quatro - Cap. 1: 1 - A Ciência da Dedução Pág. 6 / 133

Mas acabou de falar de observação e dedução. Certamente que uma implica até certo ponto a outra...

- Nem sempre - respondeu, recostando-se confortavelmente na cadeira de braços e lançando grossos rolos de fumo azul pelo cachimbo. - Por exemplo, a observação mostra-me que foi esta manhã ao posto dos correios em Wigmore Street, mas a dedução permite-me concluir que enviou de lá um telegrama.

- Acertou! - disse eu. - Ambas as afirmações são correctas! Mas confesso que não percebo como conseguiu saber. Tratou-se de um impulso repentino da minha parte e não falei nisso a ninguém.

- É muito simples - observou, rindo perante a minha surpresa -, tão extraordinariamente simples que qualquer explicação é supérflua; no entanto, talvez sirva para definir os limites da observação e da dedução. Através da observação vejo que tem um pouco de terra avermelhada nos sapatos. Mesmo em frente dos correios de Wigmore Street levantaram o pavimento e fizeram um buraco, de tal modo que é quase impossível não pisar a terra ao entrar. A terra tem este peculiar tom avermelhado que não se encontra, tanto quanto sei, em mais lado nenhum na vizinhança. E é tudo quanto à observação. O resto e dedução.

- Como deduz, então, o facto de eu ter enviado um telegrama?

- Ora, claro que sabia que não tinha escrito uma carta, pois estive aqui consigo durante toda a manhã. Vejo também que tem sobre a sua secretária uma folha de selos e um grosso maço de postais. Que poderia ter ido fazer ao posto dos correios, então, se não fosse para enviar um telegrama? Eliminando todos os outros factores, o que resta será certamente a verdade.





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